Bem Vindos O que os homens chamam de amizade nada mais é do que uma aliança, uma conciliação de interesses recíprocos, uma troca de favores. Na realidade, é um sistema comercial, no qual o amor de si mesmo espera recolher alguma vantagem. La Ro

04
Out 09


Hei de morrer jovem

na flor dos nem sei quanto anos,

com as costas arqueadas

pelo peso de uma vida,

e as pernas enfraquecidas

por trilhas, atalhos, estradas.

 

Hei de morrer jovem,

na flor dos meus desenganos,

com os olhos, assim, embaçados

por conta do quanto enxerguei

e a pele toda enrugada

pelo muito que semeei.

 

Hei de morrer certamente,

ainda que permaneçam os espinhos,

pois embora não te pareça,

jovem ainda estarei!

Pois esta foi minha escolha,

meu rito sagrado, minha lei.

 

Hei de morrer qualquer dia,

antes que seja tarde!

Mas só quando acabarem os poemas,

e tomara Deus que docemente!

Pois por mais que eu tenha pecado,

Ele sabe o quanto eu te amei.

publicado por SISTER às 14:46

01
Mai 09

  Lâmina afiada corta a carne,
  expõe entranhas e sangue visguento.
  Mexo e remexo, exploro vísceras,
  mãos como pinças, extraio a dor
  cristalizada, faz tempo, lá dentro de mim.
  Extraio a saudade e a lágrima covarde,
  semente de outono, chorada pra dentro.
  Enxugo o sangue, costuro o corte
  e em cima da mesa deposito tristezas.
  Papel em bandeja, macero o tumor.
  Nasce um poema, lirismo ao contrário.
  Apago o abajur, enfim vou dormir.  

publicado por SISTER às 14:25

18
Abr 09


Nem sempre poesia, muitas vezes heresia,

enredo que não pode ser desfeito,

tramas, teias, dramas, grito espremido no peito,

histórias que o tempo fez questão de preservar.

 

Nem sempre são rosas, muitas vezes espinhos,

outras vezes são cortes, fraturas, entorses,

sangue coagulado, cicatrizes que ainda doem,

feridas que o tempo não foi capaz de curar.

 

Nem sempre fragrâncias, muitas vezes odores,

coisas cheirando a mofo, amareladas, apodrecidas,

resto de comida esquecida no forno,

coisas que o tempo não deu conta de dissipar.

 

Nem sempre vitórias, muitas vezes derrotas,

descaminhos, estranhos, sem volta,

andar desequilibrado pela beira do abismo,

escolhas que o tempo deixou você tomar.

 

Nem sempre o poeta que existe em mim agüenta,

muitas vezes ele se ausenta, viaja nas funduras,

macera dores, nostalgias, amarguras

e depois de algum tempo voltar a sonhar.

publicado por SISTER às 07:37

15
Abr 09


Ruas, travessas, esquinas, o carro que passa,

o som da buzina, já faz tanto tempo,

dá cá um abraço, um aperto de mão.

 

No sobrado ao lado, alguém acena...

Muro de pedras, cheias de limo.

Algumas casas mudaram, já não são mais as mesmas...

As pessoas também não!

 

O Bar do Armando, agora é um depósito,

a quitanda virou sacolão, e o armazém: oficina.

Tudo mudado!

 

Eu também mudei, já não moro mais aqui,

já não tenho vinte anos, não me restam tantos planos

e na possibilidade do engano, não quero virar um depósito.

 

Melhor virar oficina, vivo me ajustando,

recondicionando-me, pra sobreviver às avarias.

 

Incomoda-me a proximidade da pedra,

assusta-me a possibilidade do limo.

publicado por SISTER às 08:01

26
Mar 09

Esta lágrima arredia

que por mais que o tempo passe

não se permite o abismo,

prisioneira do segredo,

cristalizada em meus medos,

não revela sua origem

e sequer a que veio.

 

Esta lágrima estranha,

entalada no canto do olho esquerdo,

não me permite o sossego,

vive da minha inquietude

e fez do poeta um louco,

que de tropeço em tropeço

cresceu além de si mesmo.

 

Esta lágrima solitária,

maldita benção dos deuses,

recusou revelar-se em versos,

envolveu o poeta em teias,

e fez dele um homem mais forte,

capaz de resistir ao veneno

e a sobreviver a dor de não ser.

 

Esta lágrima que eu tenho,

incapaz de ser água que role

pela face de um homem que colhe

tantas outras lágrimas que choram

na forma de palavras sementes,

é a magia que eu trago latente,

poema que eu não saberia escrever.

publicado por SISTER às 09:35

23
Nov 08

E o meu sonho disse que eu era um rio,

que passado um tempo seria mar,

que lá nos distantes subiria aos céus,

viveria nuvem, cairia chuva,

fecundaria a terra, renasceria trigo,

alimentaria o homem que não quis ver o sonho

e, cansado desta lida, descansaria pedra à luz do luar.

 

E o meu sonho disse que eu era um poeta,

que acordado da pedra sofreria homem,

e teria filhos contaminados de trigo,

que de porta em porta, ofereceriam sonhos,

que passado um tempo seriam essência,

e que a cruz que levávamos nos pertencia,

por conta daqueles que não quiseram sonhar.

 

E o meu sonho disse que eu era um caminho,

que passado um tempo subiria montanhas,

exploraria cavernas, passagens, abismos,

revelaria fontes, impulsionaria rios,

que moveriam moinhos, da semente ao trigo,

revelado o mistério do ciclo das águas,

alimentaria o homem, ensinando-o a sonhar.

publicado por SISTER às 11:03

Quando alongo olhos de horizonte,

percebo a pequenez da palavra pavio,

a complexidade do emaranhado de fios,

a amplitude das coisas sem dono

e a insensatez de vivermos com pressa.

 

Quando alongo olhos de cidade,

percebo a pequenez da palavra distância,

a complexidade da palavra conversa,

a frustração de acordar de um sonho

e descobrir que somos apenas humanos.

 

Quando alongo olhos de permanecer,

percebo a pequenez da palavra descrença,

a complexidade do ciclo das águas,

a "infinitude" da palavra caminho,

e reconheço que ainda há muito a aprender.

publicado por SISTER às 10:58

Têm dias que eu me sinto

enxertado de pássaros noturnos,

me ponho a sobrevoar lugares,

ruas suspeitas, travessas,

santuários estranhos, profanos,

protegidos por grades e muros,

becos sombrios escuros,

onde a angustia fez seu ninho, 

e a umidade nas coisas impera.

 

Têm dias que eu me sinto,

enxertado de lagartas, casulos,

ovos, larvas, borboletas,

a derramar sobre pedras meu sangue,

metamorfose de poeta em palavras,

escamas coloridas, sobrepostas,

imagens, significados, sutilezas,

por momentos iluminados, poemas,

pólen a fecundar minha vida.

 

Têm dias que eu me sinto

prenhe de vivências diversas,

histórias entrelaçadas, enredos,

e no parimento de mim mesmo,

exponho cicatrizes, segredos,

exorcizo fantasmas, meus medos,

construo um caminho seguro

que me permita levar luz ao escuro,

dar vazão a vida que existe em mim.

publicado por SISTER às 10:56

Sonho sempre com lascas de quartzo,

filetes de luz, cristais, ametistas,

pelo chão, espalhados, coisa bonita de se ver.

Vez em quando colho alguns,

luz, pedras coloridas,

guardo em minha mochila,

todo o dia, sol a pino, pego pra ver.

 

Sonho com luzes aos cacos, pedaços

pelo chão amontoados, em cores enlouquecidas,

e mais luzes a brotar das paredes,

milhares de filetes, fragmentos, filamentos.

Todo o dia, sol a pino, abro a janela,

e faço uma festa de cores,

coisa difícil de esquecer.

 

Minha poesia tem sempre sentido,

mesmo aquelas espinhosas de umbigo,

que ainda não consegui entender.

 

Meus quartzos levo sempre comigo.

Todo o dia, sol a pino, pego um pra escrever.

publicado por SISTER às 10:55

Versos receosos

de atravessar rios, pinguelas,

ficam zanzando, coitados,

sempre do mesmo lado,

não buscam outra margem do rio,

nem palavras que sejam estranhas,

só falam do amor comportado,

ou então, da dor do abandono.

Tudo meloso demais!

 

E repetem desesperados,

tipo cachorro sem dono,

a mesma cantiga faz tempo.

Receiam cometer heresias,

não sabem da coisa vadia,

das coxas molhadas de cio,

do veneno que circula no sangue,

e do hálito da mulher dama.

Não sabem da garrafa de cachaça,

da língua a provocar arrepios,

e do escorregar e cair do meio-fio.

 

Versos bem comportados,

sempre os mesmos coitados.

Não sabem da madrugada e do orvalho,

do sonho e do emaranhado de fios,

do rastilho de pólvora e pavio,

da fogueira que queima as entranhas,

do renascer, da redenção dos pecados,

só que faria bem diferente,

atravessaria outro lado do rio,

abraçaria palavras estranhas,

seria dessa feita um poema,

e ainda que cometesse enganos,

tentaria tudo outra vez.

publicado por SISTER às 10:53

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