Neste sítio, onde nasci,
Floresciam cafezais;
Terra cheia de magia
E de encantos naturais.
Todo o dia a passarada
Acordava a bela aurora,
Que trazia sol dourado,
Com fantasias à flora.
As arapongas da mata,
Os periquitos em bando,
No alpendre, o papagaio,
Pombas-do-ar arrulhando.
Com jacá de milho às costas
Vejo, ainda, o nego Tião,
Espantando mil rolinhas
Do interior do mangueirão.
A madrinha, com vasilha,
Saiu, às pressas, da tulha;
Assustada, de repente,
Gritou logo pela Júlia.
-“O que foi, Dona Sinh’Ana,
É esse pato faminto”?
-“Não! Não! Afasta pra mim
Essa galinha de pinto”!
E tico-ticos peraltas
Ficavam o dia inteiro,
Roubando farta quirera
Dos patinhos do terreiro.
No calor do sol da tarde,
Garotos, no ribeirão,
Banhavam-se em algazzarra,
Vestidos tal qual Adão.
E na areia do riacho
Espreguiçavam-se patos,
Sob os olhares amigos
De dois cães e quatro gatos.
A pobre vaca, a Laranja,
Do Laudelino adquirida,
Sofria ataque esquisito:
Ficava doida varrida.
Fazia-se rapadura,
Quando se moía a cana;
Os garotos alegravam-se
Com garapa de caiana.
À noite rangia o monjolo,
Pilando porções de milho,
Ou moía alvas mandiocas,
Das quais provinha o polvilho.
Na época da colheita,
O cafezal era rubro;
Colhia-se o café,
Que secava até outubro.
Os freqüentes mutirões
Reuniam a rapaziada;
À noite, o fandango e o baile
Davam vida a madrugada.
A gaita de oito baixos,
Viola, pandeiro e violão
Soavam, em serenata,
E acordavam o grotão.
Naqueles bailes de outrora,
Dançava-se muito a gosto:
O cavalheiro vestia
Máscara preta no rosto.
Quanta saudade do sítio,
Do sítio, onde nasci,
Pois lá nasceu minha infância,
Da qual jamais me esqueci.
Hoje mudaram-se os dias,
Mas com sentimento e fé,
Minha infância ainda sinto,
Lá no sítio São José.