A chuva quando acontece
No dorso das margaridas
No colo dos girassóis
Que vivem sempre a bailar
Pingos, palhaços sorrindo
Dão piruetas no ar
A chuva quando acontece
No dorso das margaridas
No colo dos girassóis
Que vivem sempre a bailar
Pingos, palhaços sorrindo
Dão piruetas no ar
Aconteceu a vida celebrando a vida
E fez de mim criança e imaginação
Olhar de lince, sonho de algodão
E uma curiosidade de ave de arribação
Então eu aprendí driblar a chuva
Andar de mãos atadas com o momento
Ter a eternidade em um segundo
E a felicidade como um movimento
As borboletas da alma imperavam
Quando era para louvar a fantasia
Como um punhado de plumas brincalhonas
Que vinham festejar o lindo dia
Banhado de alecrim e menta
Cantava como um verso solto ao vento
A brisa fresca do universo
Refrigerava-me em luz e sentimento
Compreendí que era alma, e o corpo
Era um apêndice de amáveis alegorias
Que eu usava e que servia
Para multiplicar as minhas alegrias
Quando o belo anjo vinha mostrar
A fada, a noite, os vagalumes
Eu adormecia abraçado
Entre estrelas e perfumes
Se a noite vinha brincar de cobra cega
Lembrando que há o momento da escuridão
Pedia à chuva e ao sol um arco íris
Que me carregasse em sua mão!
Dentro de toda mulher existe poesia
E uma epopéia para se contar
Da afinada lira do seu coração
Há muitos cantos para se trovar
Existem mãos despedaçadas de adeuses
Altares feitos para a adoração
O amor que um dia foi embora
A volta, como uma consagração
Por lá existem lágrimas
Alí se acumularam dores
Risos, gritos, cores
Mananciais de amores
Por isso a poesia escolheu
Na mulher a superação
O canto alegre de uma musa
Fazendo do amor a louvação
Por isso é que ela trás
O despertar da rima
Naquilo que ela toca
Naquilo que ela cisma
Permita Senhor
Que da terra brote sempre a flor
E que da flor aconteça
Os meus olhos para contemplar
As violetas que eu não tenho
E o alfazema que não sou
E eu preciso Senhor, dos girassóis
Do aconselhamento dos lírios
Do esplendor do orvalho
Adornando a relva de brilhantes
Permita Senhor, a primavera
O trabalho das abelhas
O bailado do beija flor
A formiga com o seu ninho
E a árvore para o castor
O despertamento nosso de cada dia
Na alegria das ovelhas
No riso do pastor
Flores,
Quem me dera flores!
Azuis, amarelas, desbotadas
Quem me dera flores!
Mesmo a esquecida
No canto da floresta
Sufocada por árvores
Que nem o sereno adota
Flores,
Quem me dera flores!
Esquecidas da chuva
E do brilho da manhã.
Flor que é rosa silvestre
Confessora dos anjos
Que escolheu a humildade
Da solidão.
Flor que floresce sem se ver
Na chaga das pedras
E não teve o afago
Do olhar da mulher
Flores,
Quem me dera flores!
Mesmo as desajeitadas
Que ninguem quer!
A vida é breve
Um sopro fugaz, um momento
Algo que se deve respirar feliz
Antes que deságue o sofrimento
É eternidade
Se um sonho acalento
E se estás bem junto de mim
Eu sou como o dono do vento
Procuro a paz
Com a ternura de quem quer carinhos
Eu quero ver o sorriso dos homens
Pavimentando de amor os caminhos
Vem ficar comigo
Mesmo que todos levantem barreiras
Vamos falar a linguagem do mundo
E adormecer sob qualquer bandeira .
Tenho medo de ficar velho e feio!
Daqui a 50 anos estarei nesta encruzilhada.
Não vou arranjar namorada... Casamento?
Quem vai querer casar com um homem de l00 anos?
Quem há de admirar-me, e me trazer flores?
A miséria, é que solteiro, vão pensar que eu sou Gay!
Se aparecer uma visita feminina, dirão que sou libertino.
Ai Deus, a velhice de l00 anos é um constrangimento!
Sabendo que no Brasil todo mundo tem biografia, "até político
de esquerda", vão querer alterar a minha "BIOGRAFIA".
Mas pra que um velho encarquilhado vai precisar de "BIOGRAFIA?".
Um homem encarquilhado quer respeito para repousar seus ossos,
ou amaldiçoar o reumatismo!
Um homem encarquilhado quer a geografia feminina com seus cumes
e ribanceiras, perfumes e matagais,
Mesmo que em imaginação, ou no nevoeiro dos sonhos.
Para o inferno com as "BIOGRAFIAS!"
O homem encarquilhado quer é desencarquilhar-se,
Montar em burro brabo, e ter seu herói fumaçando entre as pernas,
para se ajeitar num colo de mulher.
E já que é pra morrer, morrer de amor!
Penso nos abismos e nas cordilheiras das mulheres e encontro a minha
realidade.
Só elas são capazes de nos trazer à tona, quando nos afogamos
nas desesperanças do amanhã!
Tenho que manter o corpo ereto e o coração a salivar de amor,
Alimentação Franciscana e mente Budista!
Talvez eu não chegue lá, com as bênçãos de Deus.
Estou morrendo por imaginação!
Viverei o agora com todas as alegrias do coração.
O futuro é alucinação!
Preciso dos teus beijos vagabundos
Agora, e carregado de sabores
Pra apaziguar minha alma
Entrecortada em dores
Preciso mais que isto
Estrada nova para percorrer
A seiva farta dos teus lábios
Pra não enlouquecer
Tranquei as janelas
Daquele velho amor
E amor antigo não se expele
Sem muita dor
As minhas mãos estão vazias
Tenho os meus pés desaquecidos
O coração que está no peito
Tem dias doloridos
Beijos, mais que a vida
Pois que a vida é neutra cor
Pois que a vida é mais que nada
Se não existe um grande amor.
Flores,
Quem me dera flores!
Azuis, amarelas, desbotadas
Quem me dera flores!
Mesmo a esquecida
No canto da floresta
Sufocada por árvores
Que nem o sereno adota
Flores,
Quem me dera flores!
Esquecidas da chuva
E do brilho da manhã.
Flor que é rosa silvestre
Confessora dos anjos
Que escolheu a humildade
Da solidão.
Flor que floresce sem se ver
Na chaga das pedras
E não teve o afago
Do olhar da mulher
Flores,
Quem me dera flores!
Mesmo as desajeitadas
Que ninguem quer!
O paraíso que eu quero
Não é aquele lugar de misticismo e almas raras
É feito de um pedaço da memória
E veias que abraçam o coração
É feito das coisas que amei
Do que eu segurei em minhas mãos
Daquilo que eu conheço, e ao meu abraço
Faz rir ou faz chorar
O paraíso que eu quero tem o sillêncio das rolinhas
E o canto dos Jequitibás soletrando o vento
Tem a vitalidade dos bagres
E a humildade das baleias
Ainda o marimbondo de cócoras
E abelhas sorrindo
O paraíso que eu quero
É cheio de moças e aventais
E quando chegar a primavera
Os rapazes tecerão suas guirlandas
E todos rodopiarão na embriaguês das flores
O paraíso que eu quero
Não tem luxo e nem pobreza
O espírito a tudo conduz
Com ares de nobreza
O paraíso que eu quero
Há de ter um pouco de tristeza e agonia
Eu preciso confessar meus pecados
E celebrar uma poesia
O paraíso que eu quero tem cheiro de mulher grávida
Olhos de mulher grávida, passos de mulher grávida
É grávido e eternamente grávido
Germinando as coisas sagradas
O paraíso que eu quero é feito de gente
Gente, multiplicada por gente
Tocadores de flautas e batuqueiros
Em busca de eterna harmonia
Aos olhos atentos de Deus.