Fui ontem caminhar pelo jardim. . .
Sentei mais uma vez naquele banco,
Lembrei-me do raminho de jasmim,
Meigo broche no meu vestido branco!

Um mimo que tu deste para mim,
Trazendo aquele seu sorriso franco,
Vestindo calça nova azul de brim,
Tinhas n'alma a pureza de um potranco!


Que lindo era o namoro à moda antiga,
A saudade que fica é tão amiga,
Que nunca abandona o nosso peito.

Se um dia novamente eu te encontrar,
Que farei se pedires pra eu te amar?
Não sei, penso que vou ficar sem jeito.

Colori minha boca com batom,
Pra te esperar na fria madrugada,
Pintei em minha tela um sonho bom,
Por sobre a tua imagem desenhada

Os nossos sonhos tinham o mesmo tom,
Mas morderam maçã envenenada,
Pois sem dormir sob o mesmo edredom,
Pereceram naquela madrugada!

Não vou ressuscitar nosso passado,
Nem chorar sobre o leite derramado,
Esses beijos de sonhos que perdemos.

No meu leito de flores – reclinada –
Vou aguardar em paz, nova florada
Desse amor que a nós dois deixou enfermos.

Senti que entre nós rolou um clima
No exato instante que nos conhecemos,
O teu olhar de água cristalina,
Respingou sobre mim doce veneno!

Cheguei a relembrar versos de outrora,
Quando um dia em homenagem ao Cartola
Eu disse que se eu fosse uma roseira
Daria a ele todos meus botões!

Mas confesso, fiz versos empolgados,
Dedicados a um líder do passado
Sem dúvida, um grande compositor,
O qual até hoje represento,
Afinal foi esse o meu intento,
Reconhecer quem realmente tem valor.


Hoje, porém, meu versejar é diferente;
Se eu fosse uma roseira realmente,
Meus botões, eu lhe daria com amor!

Amor pelo seu jeito inefável,
Por esse seu sorriso adorável,
Pela emoção que há tempos não sentia!
Por essa deliciosa fantasia
Presa num tempo que é
Presente do passado.