Há um tempo em que o tempo não tem idade.
O que conta são as conchas e as luas,
os búzios e as marés.
O que conta são as conchas e as luas,
os búzios e as marés.
Nada mais.
Todos os lugares nos são familiares, todas as casas nos franqueiam a entrada,
todas as mesas mitigam a nossa fome e a nossa sede.
Todos os lugares nos são familiares, todas as casas nos franqueiam a entrada,
todas as mesas mitigam a nossa fome e a nossa sede.
É como se o mundo
fosse nosso e o medo e a morte não passassem de ficções benévolas
nos livros do adormecer tardio.
Há uma idade em que o tempo não tem idade.
É a idade em que cada palavra
é uma revelação, um milagre de som, em que cada sorriso é uma benção
e cada carícia uma descoberta.
E no entanto essa idade esvai-se como a areia empurrada pelo vento e dela fica-nos apenas a lembrança
de um perfume ou do rumor de uma voz.
É disto que se alimenta a poesia, desta memória objectiva e breve
que parece vir da terra quando vem do mar, que parece vir do céu quando é do corpo que se ergue.
Nunca as ânforas serviram para guardar as lágrimas, nem os dedos para contar os dias.
Há uma outra idade, mais próxima do fim, em que tudo volta de súbito a ter valor.
fosse nosso e o medo e a morte não passassem de ficções benévolas
nos livros do adormecer tardio.
Há uma idade em que o tempo não tem idade.
É a idade em que cada palavra
é uma revelação, um milagre de som, em que cada sorriso é uma benção
e cada carícia uma descoberta.
E no entanto essa idade esvai-se como a areia empurrada pelo vento e dela fica-nos apenas a lembrança
de um perfume ou do rumor de uma voz.
É disto que se alimenta a poesia, desta memória objectiva e breve
que parece vir da terra quando vem do mar, que parece vir do céu quando é do corpo que se ergue.
Nunca as ânforas serviram para guardar as lágrimas, nem os dedos para contar os dias.
Há uma outra idade, mais próxima do fim, em que tudo volta de súbito a ter valor.
José Jorge Letria