A noite aproxima-se devagar. E nuvens de
borrasca, transportam toda a sua ira,
para dentro de si, dando-nos um
espectáculo de luzes, produzidas pelos
relâmpagos, como se fossem espoletas,
prontas a explodir, no negro dos céus,
fazendo as pessoas apressarem-se,
para voltar às suas acolhedoras casas.
O trovão ribomba, por detrás dos
montes, para lá da linha do horizonte,
que não teve pôr-do-sol,
nem vislumbre de prata no rio,
emanada pela lua, que se
encontra escondida, pelas grandes
partículas de chuva, que se vão formando,
nas densas nuvens, enraivecidas.
E é este Inverno inflexível, que faz jus ao seu
nome e tem assolado este lado do hemisfério,
com ventos gélidos e tempestuosos.
E enquanto escrevo, lembro-me dos
que não têm casa nem um tecto,
para se protegerem das intempéries,
que parecem escolher os mais desolados,
para fazerem cair sobre si, toda a sua fúria.
Principiou a chover desgarradamente,
trovões e relâmpagos, não têm poiso,
e, tudo, parece mais temível, quando as
luzes da rua se apagam, deixando tudo às
escuras. É impossível estar à janela, sem
sermos fustigados, por uma imensidade
de água, vinda de todos os lados, deixando-nos
tontos e meio atrapalhados com a cólera do clima.
O rio começa a galgar suas margens e o lodo,
entrando nas águas, deixa tudo cinzento
e pestilento, com ondas bêbadas de vento,
indo de encontro, umas às outras,
deixando tudo em estado de sítio, e
atemorizando os pescadores, que não
conseguiram fugir, à imensa tempestade,
que veio - pelos vistos - para durar ainda.