Ao teu ouvido digo, meu amado,
que um sentimento, embora nos encante,
soçobrará em fel no peito amante
se lhe faltar as regas e o cuidado.
A voz que toca ouvidos em surdina
ou, tresloucada, geme de prazer,
encanta o ato e, mesmo sem querer,
é luz que ofusca a cena que domina.
Doce ternura o canto-mor desperta,
(do azul coral vestido de divino)
ao aplaudir o sonho que liberta.
A melodia, então, se torna um hino,
clamando ao tempo, em prece quase certa,
que exista, de verdade, o tal "destino".