Estiro-me nessa mortalha
Com todas as minhas marcas
Essas que a tirana vida deixou em mim,
Num queimar extremo
Numa dor dilacerante
Num sangrar interminável.
Não me peças nada
Estou surdo a qualquer apelo
De costas para o mundo!
Cansei de chorar
De sofrer sem parar
Não quero mais acreditar
Nem mais amar!
Prefiro me recolher
Trancar minhas janelas e portas
Descansar meu corpo
Curar as feridas da minha alma
Esquecer de tudo
Ficar cego e mudo
Para não ter que padecer um momento mais.
Quero limpar qualquer resquício de beijos
Que, por acaso, ainda reste nos lábios meus.
Tirar de mim a lembrança de cada abraço
Extirpar meu coração do peito
Já que esse só sabe padecer.
Não me peças pra reagir
Para sentir de novo
Para tentar uma vez mais!
Já não estou pra mais ninguém
Vou ficar aqui: morrendo aos poucos
No meu silencio amargado
Nas dores inacabáveis
Na repulsa de porta aberta.
Apenas com esse nojo profundo
Cuspir na vida
Escarrar no mundo.