Bem Vindos O que os homens chamam de amizade nada mais é do que uma aliança, uma conciliação de interesses recíprocos, uma troca de favores. Na realidade, é um sistema comercial, no qual o amor de si mesmo espera recolher alguma vantagem. La Ro

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Dez 09

   Ele não passava de um garotinho levado. Adorava pendurar-se nos galhos das árvores para se balançar.
      
      Vivia com os cabelos ao vento e os pés descalços. Tinha uma alma doce, toda amor.
      
      Chamava-se Guilherme Augusto Araújo Fernandes e morava ao lado de um asilo de idosos.
      
      Ele conhecia todos os que moravam lá. E gostava de cada um deles de uma maneira especial.
      
      Gostava da sra. Silvano que tocava piano. E do sr. Cervantes que sempre lhe contava histórias arrepiantes.
      
      Também do Sr. Waldemar que andava de um lado a outro com um remo, como se houvesse um lago por perto, para remar.
      
      Ajudava a Sra. Mandala a ir de um lado para outro, apoiada em sua bengala.
      
      E admirava o Sr. Possante com sua voz de gigante.
      
      Mas a pessoa de quem ele mais gostava era a sra. Antônia Maria Diniz Cordeiro. É que ela tinha quatro nomes, como ele.
      
      Ele a chamava de dona Antônia e lhe contava todos os seus segredos.
      
      Um dia, Guilherme augusto ouviu seus pais conversarem a respeito da sua amiga. E entre uma frase e outra, descobriu que dona Antônia tinha perdido a memória.
      
      A mãe comentou que não era de admirar. Afinal, ela estava com 96 anos de idade!
      
      Guilherme quis saber o que era a memória e o pai lhe disse que era alguma coisa da qual a pessoa se lembra.
      
      A resposta não satisfez o menino, que foi perguntar para a sra. Silvano.
      
      "É algo quente", meu filho, "muito quente", foi a resposta.
      
      O Sr. Cervantes lhe disse que era uma coisa muito, muito antiga. E o sr. Waldemar informou que era uma coisa que fazia chorar, chorar muito.
      
      Para a sra. Mandala, era uma coisa que fazia rir, rir bastante.
      
      Já o Sr. Possante lhe disse que a memória era alguma coisa que valia ouro.
      
      Então o garoto foi para sua casa e começou a procurar memórias para dona Antônia, já que ela havia perdido as suas.
      
      Procurou uma caixa de sapatos cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e as colocou numa cesta. Também colocou uma marionete e a medalha que seu avô lhe tinha dado um dia.
      
      Também para a cesta foi a sua bola de futebol, que valia ouro. E até um ovo fresquinho, ainda quente, retirado debaixo da galinha.
      
      Aí Guilherme augusto foi visitar dona Antônia e deu a ela, uma a uma, cada coisa da sua cesta.
      
      Ela ficou emocionada com os presentes daquela criança admirável. E começou a se lembrar.
      
      Segurou o ovo ainda quente, entre suas mãos, e contou para o menino sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jardim da casa de sua tia.
      
      Encostou uma das conchas no ouvido e lembrou da vez que tinha ido à praia de bonde, há muito tempo, e como sentira calor com suas botas de amarrar.
      
      Pegou nas mãos a medalha e recordou, com tristeza, de seu irmão mais velho, que tinha ido para a guerra. E nunca mais voltou.
      
      Sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas. Conseguia lembrar até do detalhe do mingau escorrendo pela boca risonha da menina.
      
      Ela jogou a bola de futebol para Guilherme e lembrou do dia em que se conheceram. E recordou de todos os segredos que haviam compartilhado.
      
      Guilherme Augusto e dona Antônia sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida tinha sido encontrada. E por um menino que nem era tão sábio, nem tão velho.
      
      Era simplesmente um menino que amava os idosos e sabia ser amigo.
      
      ***
      
      Para se brindar alguém com alegria, não há necessidade de somas exageradas de dinheiro, nem de dotes especiais.
      
      Para fazer feliz a vida de alguém é suficiente uma dose de tempo, uma pitada de amor e um pouquinho de imaginação.
      
      Em resumo: uma bela amizade.

      

    
 

publicado por SISTER às 13:30

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