Eles formavam um casal harmônico.
Jovens e belos desfilavam pelas ruas de mãos dadas e sorrisos nos lábios.
Tudo parecia lhes sorrir.
Profissionais liberais, administravam sua agenda de forma que a profissão não lhes tomasse todas as horas.
Escoavam os meses e se reprisavam os anos de gentilezas, traduzindo carinhoso afeto.
Até que um dia, um cliente mais ousado tomou atitudes indevidas e, embora fosse rechaçado com firmeza pela jovem esposa, o esposo se encheu de ciúmes.
A partir de então, o relacionamento começou a deteriorar.
Ele se tornou frio para com ela.
Os diálogos amigos se transformaram em monossílabos forçados.
Ela passou a agasalhar mágoa no seu coração.
Finalmente, optaram pela separação.
A pedido dela, ele saiu de casa.
Agora se encontravam somente no campo profissional, pois trabalhavam no mesmo local.
As noites solitárias começaram a se tornar intermináveis e ele passou a sentir a falta dela.
Analisou os motivos da separação e descobriu que havia sido muito infantil.
Resolveu pedir desculpas e retornar ao lar.
Em uma noite, decidiu que, ao se erguer pela manhã, iria até uma floricultura, compraria lindas flores e as remeteria para a sua amada.
Escolheu versos cheios de amor para esconder entre o ramalhete delicado:
Alma gêmea da minh'alma.
Flor de luz da minha vida.
Sublime estrela caída das belezas da amplidão.
És meu tesouro infinito.
Juro-te eterna aliança.
Porque eu sou tua esperança.
Como és todo o meu amor.
Adormeceu pensando em como se ajoelharia aos seus pés, confessando-lhe o amor que sentia.
Quando amanheceu o dia, vestiu-se, perfumou-se e foi até a frente da casa.
Então, se sentiu um tolo romântico.
E se ela não o perdoasse?
E se ela não estivesse disposta a reatar o relacionamento?
Afastou-se.
Durante todo aquele dia a idéia não lhe saía da cabeça.
Afinal, ela estava ali, tão perto, trabalhando na outra sala.
Não encomendou as flores.
Mas leu e releu os versos que escrevera.
Chegou a noite, cheia de estrelas.
O quarto de hotel parecia sufocá-lo.
Saiu, comprou flores, escreveu os versos em lindo cartão e se dirigiu para a casa dela.
A passo acelerado, foi chegando.
Tinha na mente, para sair pelos lábios, todas as frases de perdão e juras de amor.
Com o coração em descompasso, bateu à porta.
A empregada atendeu chorosa e vendo-o, apontou para o interior da sala.
A jovem tivera um problema cardíaco e morrera.
As flores que ele levava serviram para lhe adornar o caixão.
Mas os versos que ele fizera, esses ele não poderia jamais declamar aos seus ouvidos.
Era tarde demais...
O ciúme é perigoso adversário.
Tem a capacidade de destruir relações afetivas, ferindo os que a ele se entregam.
Se você já se permitiu dominar por ele, pense em quanto já perdeu em oportunidades de ser feliz.
Quantas vezes se tornou frio, agressivo.
Quantas vezes magoou e se sentiu magoado.
E tome uma decisão imediata.
Abandone esse sentimento e retorne às fontes generosas do amor.
Só quem ama é feliz e faz os outros felizes.