Se a bebida afogasse,
toda mágoa e tristeza,
não havia quem encontrase,
nos bares lugar na mesa.
Não vai mais adiantar,
as mágoas de tão sabidas,
aprenderam a nadar,
não ligam mais pra bebidas.
Não podendo dar rasteira,
nem mais a dor afogar,
tomou-se, então, companheira,
da pinga em mesa de bar.
As doses se multiplicam,
não afogam o desencanto,
mágoas e tristezas ficam,
só a vida perde o encanto.
E de tanto se beber,
a mente é quem se embriaga,
sem conseguir esquecer,
o amor que não nos afaga.
Lá na mesa da Caatinga,
naquele bar do sertão,
quanto mais se bebe pinga,
mais aumenta a solidão.
Quando se perde o encanto,
e o cabra arqueja de dor,
só recupera o acalanto,
com uma dose de amor.
É por isso que se diz,
só se cura dor de amor,
com um novo amor feliz,
num novo jardim em flor.
É costume no sertão,
a cada dose de pinga,
o cabra cuspir no chão,
parece que a dor respinga.
O amor é uma goteira,
por onde o carinho pinga,
e se passa a vida inteira,
buscando esse restinga.
A primeira é pro santo,
que Deus põe no nosso encalço,
que enxuga o nosso pranto,
se nos assola o percalço.
Entrei no Bar da Esquina,
com aquela dor esquisita,
a dor que a alma confina,
e que deixa a mente aflita.
A dose pra aflição,
vem da cachaça ternura,
que pinga no coração,
uma gota de brandura.
A dose pro desespero,
vem da cachaça juizo,
que amaina o destempero,
e é da prudência o guizo.
A dose pro mal de amor,
vem da cachaça esperança,
o melhor desbloqueador,
da falta de confiança.
A dose pro pessimismo,
vem da cachaça auto-estima.
que alavanca o altruismo,
e em compreensão colima.
Aqui no meu Ceará,
quando a dor a alma broca,
é numa mesa de bar,
que a tristeza nos toca.
Nesse Bar dos Sentimentos,
se você diz que me ama,
eu esqueço os meus tormentos,
e encho o copo de rama.