Quero cuspir poeira,
afundar os pés no barro,
nadar em águas pantaneiras,
molhar o corpo no orvalho!
Andar de trem fumaçando,
riscando os alagados...
Passar o tempo escutando
a sinfonia dos canários!
Quero cheiro de igarapés,
de macaúbas e araucárias...
Canto dos flamingos rosados,
revoada de araras!
Rastros de onças pintadas,
correria das capivaras...
Quero pintado na telha,
com viola em noites de luar...
Cantoria em todo colosso,
de bichos chamando chuva!
Manhãs com pura neblina,
douradas, quentes e cruas...
Quero tererê na cuia,
à sombra do umbuzeiro!
Vento no rosto de um galope
do cavalo pantaneiro!
Jacarés assustados,
bichos indomados do charque inteiro...
Quero luar preguiçoso,
beijando os perdidos corixos!
Lendas e causos matutos,
costela de boi no capricho...
Pinga da boa na guela,
amarelinha de canela,
vida sem compromisso!
Quero trem que vá ao pantanal!
Quero vida, amém!
Até que eu chegue lá...
Minha alma, porém, estará
a me esperar!
Pois, quando parti iludido,
foi ela quem ficou lá!