Quisera poder cantar-te,
em versos sem lamentos.
Saber de ti ó morte,
se conheces o poder sem alento,
do horror, que de ti verte.
Tantos gritos, tantas dores!
Ao falar de ti,
enchemo-nos de pudores.
És o inferno ou apenas o inverso
de nossa sorte?
A vida que dizemos ter,
está também estampada em ti,
no que é desprezível , no horror
que podemos vivenciar...
Aflitos até imploramos que logo
venhas,
aliviando o pesadelo desta
malfadada vida.
Já nem sei se a morte é vida,
ou se a vida é morte.
E nesta dualidade,
a crueldade tanto maltrata!
A vida a cada dia que passa, morre
e a morte se aproxima,
cada dia mais e mais,
fazendo a vida virar morte
e a morte se tornar vida,
além desta vida que se finda.
Será morte que és a vida
virada pelo avesso?
Mas se fores outra vida a ser vivida,
o que nos reserva além desta vida?
És vida, pois morte pós morte, não
seria vida vivida
pela eternidade da vida.
E neste perambular, acho morte,
que tu não existes.
Fostes inventada para sairmos desta
vida e adentrarmos pela porta da
vida, numa outra vida.
Então, sai a vida com a morte
e a morte vive na vida, como vida
eterna a ser vivida.
Que confusão tu me fazes ó morte!
Quisera poder cantar-te
sem lamentos,
pois chegas em hora certa,
para exterminar tantos sofrimentos.
Mas adentras também sorrateira,
onde ainda havia muita vida
a ser vivida.
Tristezas contigo carregas,
nesta vida,
isso fazes questão de demonstrar.
És a parte mais profunda do ser,
mas posso ficar mergulhada por
horas a fio,
em meu íntimo mais profundo
e fazes questão
de esconder seu segredo.
Não se faz luz em meu pensamento.
Então morte creio, que o eco do meu
pensamento é uma voz no abismo.
Quisera poder cantar-te,
em versos sem lamentos,
mas te condeno ser cúmplice do
silêncio profundo.
Me silencio diante de ti
e neste silêncio por momentos,
peço ao bom Pai tão somente,
paz para esta vida de sofrimentos.