Bem Vindos O que os homens chamam de amizade nada mais é do que uma aliança, uma conciliação de interesses recíprocos, uma troca de favores. Na realidade, é um sistema comercial, no qual o amor de si mesmo espera recolher alguma vantagem. La Ro

06
Mar 09

Sempre que devo falar em educação procuro não parecer cética, mas me lembro do que dizia um velho e experiente professor: "Se numa turma de quarenta alunos faço um aprender a pensar, me dou por satisfeito". Não sou modelo de vida escolar. Não fui boa aluna, passei a gostar de estudar quase  na faculdade, em geral fui medíocre. Das coisas boas que me marcaram, uma foram os limites sensatos, outra, a autoridade bondosa. Nada a ver com autoritarismo, desrespeito ou controle abusivo. Fui uma criança rebelde, numa época em que criança dormia cedo, nunca discutia com os adultos, menina deixava seu quarto impecável, bordava com mãos de fada e aprendia a ser uma moça tranqüila, obedecendo ao futuro marido com a mesma graça com que obedecia a pais, avós e professores.
 
Eu não era nada disso: meu problema era a indisciplina. Coisas inocentes da perspectiva atual, como rir em aula, dificuldade em ficar quieta, achar graça onde ninguém via graça nenhuma e me entediar mortalmente na maioria das vezes. Sonhar olhando pela janela com vontade de estar em casa, lendo debaixo das árvores ou aconchegada no meu quarto. Ah, aquela cama embutida em prateleiras! Mesmo assim, havia algo de reconfortante em existir um tipo de ordem e algumas exigências, evitando que, montada na vassoura da fantasia e do precoce desejo de independência, eu sumisse no ar ou nas páginas de algum livro. O colégio era severo, não cruel. Estudava-se muito. Aos 11 anos comecei a aprender latim, que me ajudaria a compreender melhor meu próprio idioma, entre outras coisas, e aos 12 decorávamos poemas em francês, alguns dos quais até hoje recordo (mal).

Na matemática e nas ciências exatas meu fracasso era espetacular. Meu bom professor de matemática, que me deu intermináveis séries de aulas particulares, lamentava-se com meu pai: "Essa menina não é burra, mas não aprende nada, só fica me olhando com olhar meio desamparado".

Décadas depois, interrogada por jornalistas a respeito de meu desempenho escolar, minha mãe respondeu com bom humor e muito realismo:  "Ah, ela era uma aluna nota vírgula".

E explicou: eu estava sempre precisando de nota para ser aprovada em matemática e ciências exatas e, achava ela, por compaixão os professores me davam o décimo faltante. Eu precisava de nota 5, me davam 5 vírgula 1; precisava de 3, vinha um 3 vírgula 4. A vírgula me salvava da reprovação (segundo minha mãe). Repetir o ano era o horror dos horrores. Para a meninada de hoje isso deve soar quase irreal. A gente recebia nota, sim, não conceitos vagos. Era reprovado, sim, com certa facilidade, o que significava um exame de segunda época no período das esperadas férias de verão e uma enorme possibilidade de repetir o ano – o máximo opróbrio. Hoje, é preciso esforçar-se para conseguir uma reprovação.  Repetir o ano? Quase impossível.

Muito de psicologia mal interpretada nos mostrou pelos anos 60 que não dá para traumatizar crianças e jovens: eles têm de aprender brincando. Esqueceu-se que a vida não é brincadeira e que o colégio – como a família – deveria nos preparar para ela. Transformou-se a escola num reduto familiar: professoras são tias, e muitas vezes a bagunça é generalizada, porque na família talvez seja assim. Um pouco de ordem na infância e na adolescência – em casa, na escola e na sociedade em geral – ajudaria a aliviar a perplexidade e a angústia dos jovens. Respeito deveria ser algo natural e geral, começando em casa, onde freqüentemente as crianças comandam o espetáculo. O exemplo vem de cima, e nisso estamos mal. Corrupção e impunidade são o modelo que se nos oferece publicamente. Se os pais pudessem instaurar uma ordem em casa – amorosa, mas firme –, dando aos filhos limites e sentido, respeitando o fato de eles estarem em formação, estariam sendo melhores do que agindo de forma servil ou eternamente condescendente. Aliás, em casa começaria o melhor currículo, a melhor ferramenta para a vida: respeitar, enxergar e questionar.
 
Nem calar a boca, como antigamente, nem gritar, bagunçar ou ofender: dialogar, comunicar-se numa boa, com irmãos, pais e outros. Isso estimularia a melhor arma para enfrentar o tsunami de informações, das mais positivas às mais loucas, que enfrentamos todos os dias: discernimento.

O resto, meus caros, pode vir depois: com todas as teorias, nomenclaturas, "modernidades" e instrumentação. É ornamento, é detalhe, pouco serve para quem não aprendeu a analisar, ler, concentrar-se, argumentar e ser um cidadão integrado e firme no caótico e admirável mundo nosso.


 

publicado por SISTER às 11:44
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comentário:
Eis a minha modesta apinião sobre o assunto da actual indisciplina e até violência nas escolas (enão só).

Há alguns anos a violência das "crianças" era devida aos livros de banda desenhada violenta, depois a culpa passou para os filmes violentos, sendo agora os jogos de computador violentos os responsáveis. Enquanto se procurava descobrir os motivos da mudança de atitude das "crianças", crescia nestas a indisciplina e a violência.

A verdade é que as actuais formas de educação estão erradas: "está tudo de pernas para o ar". Os professores estão hoje impedidos de castigar fisicamente os alunos, mas não só: os próprios pais estão hoje sujeitos a duras penas se o fizerem em muitos países, incluindo em Portugal, por isso começou já a dar-se uma inversão em termos de autoridade que passou dos professores para os alunos e até dos pais para os filhos. Por isso não é de espantar que os professores tenham muita dificuldade em manter a ordem na sala de aula e por vezes nem o consigam, chegando até a ser severamente agredidos por alguns alunos. Começam também a surgir casos de pais que são duramente castigados pelos filhos quando não lhes satisfazem os caprichos, o que chega a acontecer em público, tendo sido já mostrado na televisão. Isto prova que os actuais conceitos de educação estão errados, por isso as ideias que agora dominam, de não aplicar quaisquer castigos físicos em quaisquer circunstâncias, terão que mudar. O Governo Português também não os admite por serem condenados pelo ocidente e pela EU, onde as mudanças terão que ocorrer primeiro. Portugal nisto, como noutras coisas seguira depois a onda (boa ou má). Há países em que o problema é até mais grave do que por cá, por isso, em breve, deverão chegar à conclusão que algo tem que mudar e alguns castigos físicos terão que ser repostos pelos pais e até pelos professores, sob pena de estarmos a criar cada vez mais pessoas inúteis que nunca se adaptarão a cumprir nem ordens, nem horários, nem quaisquer outras regras, e que viverão sempre à custa dos outros porque é mais fácil. Aliás, foram habituados desde sempre a fazer apenas o que lhes dá prazer e na vida real isso não é bem assim, por isso lembro o ditado: “de pequenino é que se torce o pepino”...

Os castigos físicos eram bem tolerados pelas anteriores gerações de pais e no futuro voltarão a sê-lo porque compreenderão a necessidade de ser dada autoridade aos professores para castigarem os alunos mal comportados para a protecção dos seus filhos que são as primeiras vítimas dos colegas delinquentes. Actualmente as escolas não têm meios de os proteger. Há até um abuso de linguagem ao se apelidar de "crianças" a todos os jovens de menor idade. Até parece que a inteligência e a capacidade de distinguir o bem do mal chega na noite em que completam dezasseis anos. Mas uma “criança” de três anos terá a mesma capacidade de entendimento de uma de uma outra treze? Agora já não temos um vocábulo que as distinga a não ser que continuemos a chamar “bebé” à de três anos, o que também não me parece correcto! Fazendo um esforço para compreender a extensão do termo “criança” a todos os rapazes e raparigas apenas concluo que é apenas para menosprezar o aumento da delinquência e da criminalidade nas camadas jovens, porque sendo praticada por crianças não se lhes dá tanta importância.

Afinal nem tudo é mau porque a maioria das crianças continua bem comportada e não necessita de tareia, mas o facto de saberem que podem ser castigadas é só por si um desincentivo ao mau comportamento. Tal qual os adultos que cumprem as leis porque sabem que de contrário podem ser punidos, e quanto maior for a punição maior é o cuidado.

É claro que quando apoio os castigos físicos em casa e nas escolas me refiro apenas até cerca dos dez ou doze anos, o que deverá ser suficiente para socializar o aluno, mas, se não for, os jovens em causa deverão ser encaminhados para casas de "correcção" (ou outro nome que julguem mais conveniente) onde, com apoio psicológico, sejam habituados compulsivamente a cumprir regras, como: levantar, comer e deitar a hora certa e tratarem eles próprios das suas necessidades pessoais, aí as actividades de lazer deverão ser permitidas mas canceladas em caso de mau comportamento. Se falhar serão casos perdidos.
Zé da Burra o Alentejano a 18 de Março de 2009 às 15:06

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