E o meu sonho disse que eu era um rio,
que passado um tempo seria mar,
que lá nos distantes subiria aos céus,
viveria nuvem, cairia chuva,
fecundaria a terra, renasceria trigo,
alimentaria o homem que não quis ver o sonho
e, cansado desta lida, descansaria pedra à luz do luar.
E o meu sonho disse que eu era um poeta,
que acordado da pedra sofreria homem,
e teria filhos contaminados de trigo,
que de porta em porta, ofereceriam sonhos,
que passado um tempo seriam essência,
e que a cruz que levávamos nos pertencia,
por conta daqueles que não quiseram sonhar.
E o meu sonho disse que eu era um caminho,
que passado um tempo subiria montanhas,
exploraria cavernas, passagens, abismos,
revelaria fontes, impulsionaria rios,
que moveriam moinhos, da semente ao trigo,
revelado o mistério do ciclo das águas,
alimentaria o homem, ensinando-o a sonhar.