Eu finjo que não me importo...
Finjo que não me faz falta, que já me esqueci.
E vou fingindo tanto e cada vez mais,
que num lapso qualquer do tempo,
eu me pego a fingir que estou fingindo...
Estarei louca?
Não acredito.
A loucura teria mais lucidez do que isso.
O que me mata assim, devagarinho, é a saudade...
Essas imagens doces e atrevidas
que insistem em provocar inquietação,
dentro de mim.
Será que todo mundo é assim?
Não acredito.
Ou o mundo seria um mar de lágrimas!
Mas eu não posso chorar.
Já gastei pranto (nem sei quanto) pela vida afora.
Poderia fazer falta no futuro...
Mas será que eu terei futuro?
Não acredito!
O meu corpo certamente terá,
mas a minha alma...
Essa já vaga pelo espaço há tempos,
desencantada das experiências terrestres,
dos sentimentos que não encontrou aqui.
Jogou a cartilha fora e foi embora,
cansada...
Será que ela estava mesmo... só cansada?
Não acredito...
O cansaço é apenas consequência,
da dor
da saudade
do desmantelo
decepções
frustrações...
Que horror!
E tudo por amor.
Será mesmo por amor?
Não acredito.
Por amor os seres se unem,
na doce cumplicidade e confiança,
que só os que se amam são capazes!
Por amor eles se buscam,
querem estar juntos, perto, sempre perto.
Desamor! Eis a questão!
Aliás... perdoe-me, Shakespeare,
a questão é sua, não minha.
Minha tragédia não é tão grave
quanto a de Hamlet...
No meu parnaso-lamúria,
a proposta é: crer ou não crer!
Eu só canto o desencanto,
que matematicamente está para o abandono,
assim como a ausência está para o descaso...
Equivalência infame e cruel!
Expressão malfadada...
cujo resultado é invariável:
- Desamor!
Quem se mantém acorrentado ao desamor,
está pagando por um crime que não cometeu,
e eu amo tanto a liberdade!
E sei que um matemático brilhante disse:
"- Não é livre quem não consegue ter domínio sobre si."...
Então... você venceu, Pitágoras!
Adeus desamor.
Eu desço aqui...