Não sou,
Nem maior
Nem menor
Do que ninguém
Me banho deste sol
Bebo desta água
Respiro o éter azul
Desta manhã
Num canto de quintal
Onde a luz de tão verde,
Pincelando os ermos
Expande a voz
De um canário
Que se fragmenta inteira
Entre os ruídos do cotidiano
A cidade espreguiça-se...
Recebo um beijo de hortelã
Num murmúrio gutural
De um bom dia sonolento
Mais um dia se inicia...
Na cozinha
Os aromas se misturam
Se mesclam com as palavras
Nas novidades anteriores
Pela janela vislumbro
As folhas verdes
De um jovem pé de frutas
Me debruço
Lendo as coisas
Numa brisa transeunte
Que dali se avizinha
Volta para mim
O indesejado cenário
Algo de saudoso me angustia
Uma canção talvez
Denunciadora...
De um amor adormecido
Entre as dobras do tempo...
E a soma de meus dias
Ponte triste
Extravaza
Em ruidos lacerantes
Minha dor de ser impotente
De um canto mais diuturno
Menos frágil
Mais sentimento
Menos parecido contigo.
E respiro a vida
Enquanto tu dormes...