Sonhei ontem assim, do nosso jeito,
Que ultrapassou as raias do perfeito,
Na bela sinfonia à natureza...
Ouvia bem o som de passarinhos,
Que alegremente chegam nos seus ninhos,
Como quem nunca viu tanta riqueza!
Ao longe o marulhar de uma cascata,
Arrancava do peito, sem bravata,
Um verso antigo que não quis voar...
Você chegava bem devagarinho,
Beijando meus cabelos de mansinho,
Pedindo que o deixasse duetar.
Mas não nos versos, nesta vida linda,
Que a gente descobriu e foi bem-vinda,
Ocultos nesse abrigo de nós dois...
A tarde vinha então caindo mansa,
Como uma nuvem que no céu balança,
E tudo era tão lindo no depois...
No céu, o azul fazia grande festa,
A lua nos pedindo uma seresta,
E um querubim gritando: - O amor é lindo!
Seu riso misturava-se de leve,
Ao meu, que percebi, ficava breve,
Ao som da noite que já estava vindo.
Nos acordes finais da melodia,
Colhia um pouco mais dessa magia,
No ocaso que deitava sobre a serra...
Mas de repente eu vi que entristeceu,
O seu olhar, que eu sei, nunca foi meu,
E um anjo mau chutou-me para a Terra...
Naquele desespero ainda tentei,
Salvar do triste fim o que sonhei,
Mas não dei conta pois me faltou sorte...
Eu vi tombar meu sonho derrotado,
Tão triste, tão puído e amarrotado...
Quando nasceu pensei que era tão forte!
São tantas peças que a vida nos prega!
Pelas vielas onde se trafega,
E quase tudo morre de repente...
Em qualquer inventário do destino,
Resta-nos sempre o insano desatino,
Da bruxa que parece displicente...
Mas ela que se ocupe de outro alguém,
Porque sem ela eu vivo muito bem,
Dispenso a morte aqui na minha instância...
Volto a dormir sem medo de acordar,
E sei que novamente irei sonhar,
Desse meu jeito, como lá na infância...