Minha vida era tão livre, nos campos da minha terra,
naquelas tardes fagueiras, cavalgando ao pé da serra.
O vento, meu companheiro, sempre chegava primeiro,
ansiosos e felizes, a descer despenhadeiros.
Medo eu não conhecia, o tempo não me deixava,
o mundo era sempre belo, nele nada me abalava.
Eu pensei ser imortal, não sabia o que era a dor,
meus maiores desafios, eram o frio e o calor.
Mas os mesmos olhos verdes, que o poeta conheceu
trouxeram também a mim, para esse recanto meu,
onde eu vejo os meus dias, a passarem sonolentos,
se não tem muita alegria, também não são de tormentos.
Mas a saudade intrigante, no meu peito fez morada.
Pinta nele as borboletas, o canto da passarada
os dias sempre festivos, das crianças, a algazarra,
até o sol era mais sol, hoje o sol é quase nada.
Sei que tudo que me resta, são essas quatro paredes,
não tem mais o manacá, nem a varanda com rede,
ninguém mais anda sem pressa, parando pra prosear,
e voltar já não resolve, que nada está no lugar.
Eu me fecho em minha cela, que só tem uma janela,
sei que aqui estou a salvo, tudo que sobrou foi ela.
Mas a alma se recusa, a ficar junto comigo,
foge nas asas de um sonho, em busca do tempo antigo.
Não encontra mais ninguém, volta num alazão alado,
sem perceber que ela é, só uma sombra do passado,
que não aceita cabresto, muito menos ser domada,
a saudade é uma galega, cavalgando na invernada.
Se ninguém parar seus saltos, algum dia há de cansar,
que saudades mais recentes, vão tomar o seu lugar.
Como tudo nessa vida, nada dura para sempre
se o passado quer voltar, o futuro não consente!