Abril é o mês das flores e da primavera no velho continente.
O mês de grandes movimentos pela liberdade, fraternidade.
A minha memória musical presta homenagem aos libertários
Zeca Afonso e aqueles que fizeram a revolução dos cravos.
Não importa seus resultados, o que importa foi o sonho vivido.
Sonho vivido até o limite do realizável, do palpável.
Zeca Afonso, ou com cerimônia, José Afonso, um homem admirável,
Viveu a utopia do sonho ao seu extremo.
José Afonso e Adriano Correia de Oliveira foram mentores da
Canção de intervenção em Portugal. Poeta, balaieiro, compositor notável.
Conciliou a musica popular portuguesa e os temas tradicionais
com a palavra de protesto em prol da liberdade e da igualdade.
Zeca trilhou, desde sempre, um percurso de coerência.
Na recusa permanente do caminho mais fácil,
da acomodação, no combate ao fascismo salazarento.
Injustiçado, por estar contra a corrente,
morreu pobre e abandonado pelas instituições.
No começo do ano passado, estive em Coimbra.
Andando pela cidade, descobri uma casa
com uma pequena placa "aqui viveu Zeca Afonso".
Senti vontade de passar as mãos naquelas paredes,
como acariciasse o poeta.
Fiquei com um nó na garganta.
Uma emoção diferente.
É doce e ao mesmo tempo doloroso
ficar frente a frente com a própria acomodação,
com o desejo contido de viver o sonho,
lutar pela utopia, ao mesmo tempo acomodar-se à rotina da vida.
O 25 de abril, como vivência de uma utopia,
estará sempre na memória e no sangue de cada um.
Sempre haverá alguém cantando
" terra da fraternidade, o povo é quem mais ordena,
dentro de ti ó cidade.
Em cada esquina um amigo,
em cada rosto a igualdade.
Grandola Vila Morena, terra da fraternidade."
No delírio do sonho, da utopia,
imagino Grandola Vila Morena, como a terra... o mundo.
Cada esquina é um pais,
onde " as fronteiras beijam-se e ficam ardentes" ,
como poetizou Silvio Rodriguez ,
poeta/revolucionário cubano,
que cantou a perda do "unicórnio azul".
Com esta memória musical homenageio
todos que fizeram da utopia,
do sonho sua forma de poesia e de canto.
Violeta Parra, Mercedes Sosa, Victor Jará,
que foi assassinado por ver o utopia,
por sentir o sonho acontecer na vida,
no rosto molhado de Amanda, que corria
a fábrica onde trabalhava Manoel, com um sorriso
nos lábios, sem importar com nada, porque ia se
encontrar com ele _ o amor.
Que as flores de abril e seus ares de anil
transformem a vida em canção,
que os poetas estejam dizendo:
"vai e canta, meu irmão,
ser feliz é viver morto de paixão."
GRANDOLA VILA MORENA
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade