Hoje voltei a pensar nos tropeços...
Foram tantos... Ainda terei tantos mais...
Faltam-me forças. São muitos rochedos!
Meus pés já estão feridos demais!...
Açoita-me a dor da espera sem fim...
De tantas dores que já sofri calada!
Vão-se os dias... Foge a vida de mim...
Sou dona do quê? - Sou dona de nada!
Passo esquecida de me sentir... Olhar...
Caminho como uma pobre sombra...
Sou gaivota solitária voando sobre o mar.
Que ferida e frágil, na areia quente, tomba!
O sol inclemente queima minhas asas...
Já não há como sonhar... Voar... Voar!...
Vou assim, morrendo na areia que me abrasa...
Sem tentar minha sorte para sempre mudar!
Mas mudar como? - Como mudar o destino?
Como convencer esse rude e cruel senhor...
Que jogou-nos em tão belo e doce desatino,
E depois, zombou do meu, do nosso amor?
Não posso administrar teus sonhos,
e ao mesmo tempo conviver
com a realidade, imputando-me
o desgosto de te ver, ao meu lado,
ser infeliz.
Por isso, não me obrigue
a sorrir, mentir, e calar
o amor que luta por ti.
Não sei o tempo que tenho,
ou quantas batalhas terei que vencer,
para, enfim, crer que errei sem pecar,
amando você!
Os tentáculos que a mim enlaçam
São os mesmos que me dão movimento
São os que afugentam meu tormento
E à todas minhas dores estilhaçam
Os tentáculos que a mim devassam
Comprimindo em mim meus sentimentos
São a razão de todos meus alentos
Que à força da razão hoje escapam.
Os tentáculos são minha alegria
Suas ventosas a sugar-me o teor
Sem eles eu não mais existiria
Se existisse viveria em torpor.
Os tentáculos se chamam poesia
Presos ao corpo do polvo do amor
A mão que eu seguro,
Trêmula e inquieta,
Já não obedece
Às ordens da mente
A mão que seguro,
outrora de atleta,
descanso merece,
conforto somente
A mão que seguro
é a que me amparou
nos primeiros passos
ao longo da vida
A mão que seguro
por anos lutou
vencendo percalços
curando feridas
A mão que seguro
seus passos guiando
no trôpego andar
de cai e não cai
A mão que seguro
os passos contando
- Assim devagar -
É a mão do meu pai.
