Meu Senhor,
Sei que Tu me sondas
E procurei ser forte,
Na franca medida de minha fraqueza,
Meus pés fraquejaram ao perseguir limites,
Em que não sabia se desmaiava
Ou sobrevivia.
Sei que Tu me sondas
E até me indicará caminhos,
Sinto-me ansioso por novas jornadas,
Os fins, os desafios (quais serão?)...
Meu Senhor,
Quão complexo é para mim
O discernimento de Tuas diretrizes,
Mas percebi, pelo menos,
Em meio a dores e certa tragédia,
Desmedida,
Os Teus dedos luminosos
Finalmente tocarem em mim.
Deus meu,
Não me sinto derrotado,
És meu freio de arrumação,
Quando pensava, em pobre orgulho,
Que urdia um vôo de águia,
No entanto, nada havia,
A algaravia ficou simbolizada
Nos cacos alquebrados
Do ombro direito,
Explodido pelo cabo de um fuzil,
Bala perdida ao contrário,
A desviar meu destino em direção a Ti.
Ó meu Senhor,
Tu me sondas e me fez chorar,
Como menino sozinho,
De dor, pânico e estupor,
Mas deu-me compreensão
Para entender a humana natureza
E a sua natural torpeza
De fazer sofrer
A quem diz que mais ama,
Pelo fio do poder,
Do controle e da opressão.
Meus olhos, meu Senhor,
Estão ensaboados de lágrimas
E nem consigo ter ódio no coração,
Sabes, aquele ódio de bandido celerado
Que se compraz na vingança,
Porque entendi, pela primeira vez,
Como é que o Senhor opera:
Não vale a pena sujar as mãos
Com o sangue dos que nos ofendem,
Em virtude de És quem chama para tI
O supremo julgamento,
Sem o qual as violências jamais seriam mitigadas,
Nem ser teria o menor sentido.
Se fizeres por mim um renascimento,
Já terá valido a pena ter vivido,
Ter meu cérebro poupado,
As vísceras, o andar
E a capacidade total de amar de novo.
Que essa oração tão dorida,
Em forma de lamento,
Caia em Teu colo tão divino
E converta minha dor,
Particular e egoísta,
Em momento de reabilitação
Para o sofrimento de outro semelhante,
Mais carente.
Quando vejo a meu lado
Os que mais sofrem,
Morro de imensa vergonha
De Te pedir:
Afasta de mim este cálice de dor,
Porque confesso que aprendi
E consegui ver, em silêncio,
Sozinho, trêmulo e abandonado,
Que Tua luz rebrilhava
E que me mandaste um Anjo.
Esteja certo, Deus meu,
Cumprirei a minha parte
E até acho ter ultrapassado
Alguns limites por pré-julgamento,
Mas será que o Senhor me permitiria
Diminuir tanta dor em meu corpo,
Embora ela tenha sido útil
Para purgar os pecados de minh'alma?
Volvo a Ti, em comedimento,
Um sinal, porta fora, porta adentro,
Ó meu Senhor,
Perdoa Tua pobre criatura,
Senhor,
Livra-me de mim...