Às vezes na caminhada, encontramos portas abertas, que nos convidam a entrar, e lá vamos nós com a nossa ousadia e inquietude a penetrar em seu interior. Parece tudo tão bonito e brilhante. Em cada parede, quadros que mostram a materialização dos sonhos, daqueles que trazemos em nosso interior e querem se desvelar.
Então pisamos confiante neste novo aposento, nos deitamos na rede da varanda, sentindo a brisa fresca da tarde, escutando o doce trinar dos pássaros, na sua alegria natural. Heis que de repente, ouvimos o som da viola dedilhada, por um experiente cantador, que dela tira os sons mais sedutores que chegam nos corações desejosos de encontrar um grande amor.
E aquela melodia nos leva a penetrar nos meandros da música, a se deixar envolver pelo ritmo romântico, a fechar os olhos e dançar na loucura que a paixão permite e que os desejos aflorados cobram quando encontram um território propício e aguçado para a sua realização. E a sensação de que os Deuses do Olimpo conspiram a nosso favor, e que agora sim é chegada a hora de se revelar um sereno Amor, faz com que o coração sinta-se navegando em nuvens douradas, carregadas de uma gostosa eletricidade, que acende corpos e almas.
Tantos momentos são vivenciados nesta casa de paredes luminosas, tantas idéias trocadas, tantos sonhos compartilhados, que se chega a pensar, que a busca pelo grande amor ali termina e começa uma nova caminhada; a do viver a dois, compartilhando das mesmas emoções, em que de mãos dadas iremos caminhar pelos campos de centeio, sob as bênçãos da natureza, sentindo raios de sol aquecendo rosto e corações.
Parece tudo tão certinho, mas eis que de repente, surgem nuvens cinzentas que vem trazer o sombrio vendaval a arrastar sonhos e esperanças para o ralo da desilusão. E então, os quadros da parede recebem um pano negro, o do luto que precisa ser feito, o da ruptura dos laços afetivos, porque quando um desiste e se vai, o outro precisa ter amor próprio suficiente, para reiniciar a caminhada, sair da casa e seguir por um caminho que o leve buscar uma outra janela.
Uma janela em que possa sorrir de novo, em que sinta que nem tudo está perdido, em que tenha a absoluta certeza de que tudo o que ganhou foi bom, mas aquilo que perdeu seja o que for, precisa ser resgatado de novo, para desanuviar o coração, e encontrar a paz de espírito.
Se for um poeta e neste sonho dourado perdeu a inspiração, e não mais conseguiu escrever seus sentimentos, pois estavam desencontrados, então nesta nova janela, que possa se deliciar com a visão do mar, das flores, coqueiros e o alegre papagaio, sejam poderosos estímulos aos olhos do menestrel, para que volte a escutar o doce cântico da lira.
Assim ele sabe que ela voltará: aquela antiga inspiração que acalentava seus dias e noites, e que sempre o acompanhou, sem nunca jamais traí-lo e nem deixá-lo ao léu.
A vida transcorre num contínuo movimento e tudo o que acontece para cada um de nós, sempre contém um aprendizado.
Mas quando algo nos prende a ponto de nos tirar a alegria de viver, temos que ter a coragem suficiente de mudar tudo o que for necessário, para retornar ao ponto de partida, aquele em que encontramos uma porta aberta e nela entramos.
Há que se fechar esta porta e partir para um recomeço, com o coração cheio de esperança de que tudo valeu a pena, pelos instantes de felicidade, mas que nada nesta vida tem duração eterna.
A tristeza, a mágoa, o desânimo não trazem nenhum benefício à saúde. Apenas são portas abertas para que a doença física se instale e faça morada.
Que tenhamos suficiente bom senso para não deixamos que as daninhas dos sentimentos e pensamentos negativos nos prendam em suas malhas traiçoeiras.
Que a vida é um sopro fugaz e a cada dia temos uma nova oportunidade de sermos cada vez mais felizes e realizados, pois o Supremo Criador nos deu a Inteligência para que saibamos conduzir a vida para a abundância, com muito amor no coração.
Guida Linhares