Não adianta agora chegarem mil versos,
que falem do amor em silêncio.
Este amor nunca sobrevive,
pois como uma plantinha frágil,
o amor precisa de nutrição diária,
regas frescas e o carinho dos raios do sol
suavizando as arestas do cotidiano,
refrescando as folhas do amor_amizade,
fortalecendo o caule da relação afetiva,
que suga da raiz o seu sustento,
para que cresça forte e saudável.
Um silencioso amor assim desejado,
só pode vir da alucinação dos sentidos.
De um platônico querer,
que ao mesmo tempo receia diluir-se no amor,
em toda a sua plenitude de realização.
Ou então foi unilateral todo o sentimento,
toda a expressão das emoções iniciais,
ainda que por meios virtuais.
Num vaso de barro, moldado com afeto,
plantei carinhosamente a sementinha amorosa.
Num momento de desentendimento,
em monólogos não obtiveram respostas,
o silêncio se fez pesado, regado com a indiferença.
Ainda assim cuidei da semente, por mais um tempo.
Surgiu um brotinho, mas de tão frágil coitadinho,
murchou em poucos dias.
Esperei que tu viesses, dia após dia..
Uma palavra, um gesto apenas,
sinalizaria algo, porém...
Os dias se passaram,
passeastes sozinho ao sol forte,
depois com o guarda-chuva, corrias da mau tempo
desviando-se das poças d`água..
Aliás acho que nem menino você foi;
tens medo de pisar descalço nas poças d`água,
embora convides todos a fazerem isso...
Belas palavras, significativos versos
que não aplicas a ti mesmo, para seres
um pouco mais feliz, um pouco mais contente.
Me perguntei o que tanto receias,
para agir deste modo...
mudar tanto em tão pouco tempo...
Mas compreendi que às vezes
a nossa carência afetiva se torna tão funda,
que se busca qualquer vaso, até xaxim serve...
e se coloca alguma providencial semente
e se espera que cresça e vingue formosa,
para que possamos nos deleitar com as flores,
comer seus saborosos frutos,
deliciar-se com o seu aroma,
e depois recostar na rede,
fechando os olhos e sonhar
que estamos juntos...
Juntos???
É uma piada, um blefe,
um desconcerto!
Sinto muito, mas agora é tarde demais!
Não há retorno de algo que nunca existiu.
Um amor abortado logo de início,
que nem teve tempo de ser gestado
com carinho e cuidados,
com abraços reais e doces beijos..
Não meu amigo poeta,
continua com a tua poesia, quanto a mim..
A plantinha já murcha, larguei o vaso boiando
nas águas do rio de lágrimas em que quase me afoguei.
Mas Deus sempre foi bom comigo,
e logo me colocou ao abrigo!
Com o coração em paz e recuperado,
olho para a linha do horizonte
e vislumbro novos matizes do amanhecer.
Outros sabores mais inebriantes,
um perfumado aroma de sândalo,
a me envolver docemente, vagarosamente.
As flores do campo alegres e alvissareiras
saudaram hoje a minha caminhada.
Agora não mais carrego o cesto de tristeza,
muito menos o entrelaçado de mágoas,
por ter me sentido mais uma vez rejeitada.
Você que tanto me acolheu,
em momentos de poço sem fundo,
nem deverias ter tentado,
abrir as portas do meu mundo.
Passaste igual um cometa em desvario,
e nem sequer me abrigaste do frio,
depois de tantos verões e primaveras
traçando planos, sonhando quimeras.
Olho e nem vejo mais o quanto te desejei...
Olho em meu entorno.
Nem sombra de um sentimento que penso,
foi apenas por mim alimentado.
Saibas meu amigo, que a hora de chegar perto,
já foi há tanto tempo, que o bendito esquecimento,
me abraçou com toda força,
fazendo com que eu esquecesse definitivamente o teu endereço!
Então, de um amor abortado, nada mais se pode esperar!
Que o nosso ventre esteja pronto para uma nova semente,
que traga sobretudo muita Amor, Alegria e Felicidade.
Guida Linhares