Dentro de mim estão todos os meus gritos,
todos os meus silêncios, todas as minhas verdades
e todas as minhas mentiras.
Dentro de mim mora a culpa por viver e não ser feliz.
Como não ser feliz com esse céu que me oferece a
poesia e o abraço das nuvens do outono?
Os meus poemas brotam das trevas, não brotam da luz.
Esta é a verdade.
A mentira está nas canções que cantam as nascentes dos rios...
Dentro de mim tem um calabouço, e os meus sonhos
estão todos ali, presos e acorrentados.
Não sei onde guardei as chaves.
Pergunto-me:__ quem sou eu, que nem sabe onde
guardou as chaves do próprio apartamento?
Não encontro resposta, e tudo o que vejo e escuto
são os lábios e o estrondo da poesia.
Chove lá fora. Um raio quebrou o meu poema.
Amanhã recolho os pedaços das palavras
espalhadas dentro da carcaça, onde me encontro.
Quisera domar os meus instintos humanos.
Quisera ser dono de mim, assim como as aves,
os peixes e o cachorro do vizinho que me acorda
latindo poesia na madrugada.
Faria uma faxina completa nesta morada
e lançaria ao lixo toda a fúria que me impede
de acordar sorrindo com o canto dos pássaros...
Quisera dormir, e acordar poesia.
Eu, predador de mim.
© Nathan de Castro