Bem Vindos O que os homens chamam de amizade nada mais é do que uma aliança, uma conciliação de interesses recíprocos, uma troca de favores. Na realidade, é um sistema comercial, no qual o amor de si mesmo espera recolher alguma vantagem. La Ro

18
Jan 08
A festa dos reclamos luminosos
é minha.
Não gosto de coisas reais.
Todas as ilusões
me pertencem.
Sou milionário universal
da fantasia.
Gosto de passar pelas montras
e sonhar...
 
Sonhar sonhando,
sem cobiça,
sem pólvora, sem sangue,
sem ódio,
sem ferir o mundo.
 
Jorge Machado
publicado por SISTER às 06:20

Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...
 
Na dança dos dias
meus dedos cansaram...
 
Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!
 
Na dança dos meses
meus olhos cansaram...
 
Na dança do tempo,
quem não se cansou?!
 
Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...
 
Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?
Alda Lara
publicado por SISTER às 06:20

 
Em tarde que a lagrima toma o meu interior,
 depois do desprezo de alguém,
a quem um coração bobo acreditou merecer ser amado,
frente a uma tela, que muitos chamam de fria,
surge tua imagem.
 Místico, doce, arisco, com o coração machucado,
 a ponto que sentia ainda tua dor.
 Difícil lhe foi retirar o primeiro sorriso.
 Encantada, minha alma ficou como se,
 repentinamente, as velas da paixão se acendessem
 todas ao mesmo, em um só tempo, devolvendo-me a
esperança de voltar a ser feliz...
Algo, que mais parece loucura...
Mas, o que seria o amor? 
Não seria ele o pai de todas as loucuras?
 Algo estranho que penetrou em meu pensamento.
 Quem sabe, algo que me despontou só por algumas horas e,
depois, fuja de mim, ou quem sabe,
chegará meu anjo picante, tão esperado.
Agora, declino de tudo e coloco-me no xeque mate
 para decidir, de vez, se tomo a solidão por
companheira eterna, ou, se agora, ela enfim deixará
de existir e, em meu peito, voltarei a sentir o que mais busquei.
Você é minha ultima tentativa...
Te quero... Te quero... Te quero!!!
 
Cristal Solitário
publicado por SISTER às 06:20

Voltar a crer no amor,
a ter a certeza de que a felicidade
se faz de instantes a dois,
quando nos deixamos levar
livres e leves
por sentimentos amorosos
a invadirem
coração e poros!
 
Voltar a crer no amor,
a sentir o bom de se viver
a dois, alegrando-se ou chorando,
mas não mais sózinho,
agarrado a dias e noites
que passam vagarosos,
entre sonhos dispersos
e ilusões deixadas de lado.
 
Voltar a crer no amor,
quando a maior parte da vida
já passou,
e agora quase ao término,
abrem-se novas portas,
contendo esperanças já amarelecidas,
mas que nos fazem acreditar,
que o melhor do amor
ainda está por chegar!


Guida Linhares

publicado por SISTER às 06:20

Eu engatinho no verbo amar e tropeço por vezes na segunda pessoa. Flexiono o meu amar com alguns enganos e tento aprender contigo a te conjugar da forma perfeita como tu me conjugas. Ainda em alfabetização, sou como recém -borboleta com resquícios de larva e sobrevôo quase cega jardins cobertos de capins, em busca de flores, brigando até com colibris doutorados em beijos e eu sequer sou em português. Arrisco minhas novas asas por um cheiro teu. Eu fico entre o te e o lhe amo no barulho dos congestionamentos dos finais das tardes, no silêncio das madrugadas, no azul que vem do céu e cisma em parar nos lugares onde estiveram teus olhos que eu chamo de meus.

 Eu te e lhe amo ainda menina, extasiada com tuas palavras, encantada com o tom da tua voz e as descobertas das tuas mãos deslizando em meu corpo. Eu te amo ainda minúscula e balbucio teu nome com tantos erros de pronomes, mas sem erros de língua quando te lambo de A até Z!
 Eu te amo, I love You, Ti amo, Je t'aime, Bahibak em libanês.

Eu te amo bem certo em carioquês! Ainda aprendo a te amar maiúscula, como tu me amas na escrita correta de teu coração. Ou já nos amamos sem pontuação, sem erros de ortografia, sem pronomes bastando só e apenas nossos nomes? Viramos um dialeto de um povo que o Estado é de dois. Eu e você.

 Presidente e primeira-dama ou apenas artesãos no ofício de amar. Me dá a tua mão e consagramos uma nova nação onde o dicionário é produto ordinário perto de nossa paixão.

Rosa Pena
publicado por SISTER às 06:20

Dedico este conto a milhares de mendigos e indigentes que foram sepultados, neste país, sem o nome. Novembro de 2002.
                O cemitério de Serrana ficava no alto de uma colina que o povo batizara de " Boa Vista". Daquele outeiro era possível ver toda a cidade, e, simbolicamente, poder-se-ia dizer que dali os mortos vigiavam os vivos. Era um cemitério antigo e havia sepulturas que datavam de 1800 e pouco.O coveiro Eusébio informava que não se sabia os nomes dos que ali jaziam, e os registros daqueles primeiros anos haviam mofado num armário antigo e ou sido devorados pelas traças.. Ele, como seu colega Afonso, não se lembravam de que nos quarenta anos que ali trabalhavam, viesse alguém visitar aqueles túmulos. Como eram perpétuos, não se podia desmancha-los para que outros corpos fossem sepultados. Agora, não passavam de enigmáticos marcos, porque, com a passagem dos anos, nada mais restava nos seus interiores senão o pó; mas nem isto poderia ser verificado. Despertava curiosidade o túmulo que ficava na entrada, à direita do cemitério. Nada havia sido gravado na pedra; nenhum nome e nenhuma data. Anônimo. Por quais razões fora construído desta maneira? Era um mistério.
                Diz-se que a morte nivela a todos. Mentira! Naquele cemitério, como em outros das cidades vizinhas, os mortos das famílias abastadas eram sepultados em túmulos artisticamente construídos. O material usado era do melhor mármore e argolas de um metal nobre adornavam aquelas moradas onde não faltavam inscrições extraídas da Bíblia e as datas de nascimento, marcadas por uma estrela, e as da morte, por uma cruz. Além deste cuidado, um Anjo com asas abertas, como se estivesse pronto para levar o morto para o céu, encimava o túmulo. Eram pequenas capelas, com portas de ferro e cadeados como se os mortos fossem dali fugir algum dia. Naqueles anos o cemitério ainda era considerado um campo santo, e os ladrões não violavam os túmulos para tirar dentes de ouro da boca dos mortos, como ficou costumeiro nos tristes anos de fim do século XX.
                Os coveiros, Eusébio e Afonso, haviam se acostumado com o trabalho. Na hora do almoço não mais lavavam as mãos, mesmo que estivessem abrindo uma cova e jogado ossos de uma cova vencida no ossuário comum. Tornaram-se tão íntimos com a morte que não mais a temiam, e muito menos, experimentavam algum sentimento quando "plantavam" - era a gíria que usavam - uma criança, um jovem ou um velho. Suas fisionomias eram máscaras inexpressivas, enquanto olhavam os parentes do morto e colocavam as grossas cordas para fazer descer o caixão na cova de sete palmos ou o empurravam para dentro da gaveta de um túmulo. Se o morto era de família abastada recebiam uma gorjeta pelo cuidado com que tratavam o caixão. Depois que estavam sozinhos completavam o serviço jogando, vigorosamente, pás de terra e cal sobre o caixão, e , rindo, galhofavam um para o outro: "Vai irmão! Deus ou o Diabo te esperam do outro lado, mas fique aí plantado. A terra é boa e a cal vai te comer mais depressa."
                Mas a cal só era usada para os defuntos cuja família davam um agrado aos coveiros. Os indigentes e os mendigos eram cobertos apenas pela terra. Afonso e Eusébio haviam reservado as duas últimas horas da tarde para os mortos indigentes que vinham do Hospital "Dom Felício Roxo" conduzidos, a toda pressa, no coche fúnebre do preto Malachias. Parecia que ele fazia questão de alarmar a cidade quando vinha do hospital, com os seus quatro cavalos fogosos, que disparavam sob o seu chicote pela avenida da Água Limpa, passavam velozmente pela rua do Divino, circundavam o jardim e subiam a rua do cemitério. Malachias, não sei se de caso pensado ou por desleixo, não amarrava direito o caixão no fundo do carro fúnebre e o morto, na sua última viagem, ia aos trancos e barrancos, com o caixão pulando para o espanto dos serranenses.
                O relógio da Matriz já batera as cinco horas e o Malachias ainda não chegara ao cemitério. Isto incomodou os coveiros que gostavam de sair pontualmente às seis horas. Já haviam aberto uma cova para um mendigo e fumavam um cigarrinho enquanto esperavam o último serviço da tarde. Naquele dia estavam exaustos pois há mais de uma semana preparavam o cemitério para o dia de Finados que seria no dia seguinte. Túmulos haviam sido caiados; flores e árvores devidamente podadas ; enfim, o cemitério parecia um jardim. Quando menos esperavam, o coche do Malachias apontou no portão de entrada e rapidamente ganhou a rua principal do cemitério em direção aos coveiros.
                - Eu pensei que Você não viesse hoje! Disse Eusébio.
                - Foi o doutor Geová que me atrasou, Eusébio. Hoje eu tou trazendo pra vocês o "Pé de Chinelo", aquele mendigo que dormia na estação e que foi encontrado morto nesta manhã. O médico não queria liberar o corpo sem primeiro saber qual era a causa do passamento. Depois de conversar com o Dr. Ulysses resolveu dar o laudo e eu li que foi o coração que matou o pobre coitado.
                - Ta bão! Vamos logo Afonso. Malachias, você trouxe o lençol para enrolar o corpo?
                - Ele já está enroladinho, e, como das outras vezes, o caixão vai voltar. Lá no hospital tem mais uns indigentes que vão precisar dele quando "baterem as botas"
                Em menos de meia hora os coveiros já haviam sepultado o "Pé de Chinelo". Com dois pedaços de sarrafo improvisaram uma cruz e sobre a mesma escreveram o número 33, que passou a ser, no livro de registros, o número da cova do mendigo. Enquanto trabalhavam trocaram idéias sobre o morto. Ninguém tivera a curiosidade de perguntar-lhe pelo nome. Por causa de um chinelo velho que arrastava, deram-lhe aquele apelido que virou nome. Fora despachado no trem de Ponte Nova com passagem até Serrana. Havia desembarcado há mais de três anos. Sua idade era indefinida e vivia, de porta em porta, nas horas do almoço e do jantar, com uma cuia na mão, pedindo " Pelo amor de Deus", um prato de comida. Ninguém lhe negava o que comer. Em Serrana somente o Caburé, jardineiro da Praça 28 de Setembro, não gostava dele. "Pé de Chinelo" tinha o costume de todas as tardes, antes da Ave-Maria, roubar uma rosa do Jardim e leva-la até à imagem de Nossa Senhora das Graças onde a depunha junto aos seus pés. Em seguida, de joelhos, rezava num velho terço, os mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Era sua fé. Pe. Solindo apreciava o mendigo e quando passava ao seu lado dava-lhe um carinhoso abraço. Depois do terço, "Pé de Chinelo" saía da Matriz, rindo e falando sozinho: "Ela me ouviu. Hoje, eu falei com a minha Mãe" e tomava o rumo da estação da Leopoldina Railway onde dormia num canto envolto em sacos de linhagem. Apesar da miséria em que vivia, da sua solidão, mantinha um sorriso de quase alegria e seus olhos verdes exprimiam um conformismo que era mais expressão de uma grande paz na alma. Ninguém o temia e as crianças adoravam ouvir suas histórias quando ele se assentava num dos bancos do jardim. Eram histórias de fadas, princesas e cavaleiros. Dizia, e as crianças acreditavam, que havia vivido naqueles tempos e fizera parte da corte do Rei Arthur na lendária cidade de Camelot. Descrevia como era a vida na corte e que seu nome verdadeiro era Sir Gawain. Acrescentava finalmente, que fizera parte dos cavaleiros que buscaram o Santo Cálice - o Santo Graal - onde estava recolhido o sangue que Cristo derramara da cruz. Como se acovardou em acompanhar seus pares recebeu, de um monge, uma maldição. Foi condenado a vagar pelo mundo e permanecer três anos em cada cidade até que Nossa Senhora, a Rosa Mística, o perdoasse e aí então encontraria a paz e morreria.
               Quando as crianças contavam aos pais aquela história eles riam e diziam "O Pé de Chinelo está caducando. Ele deve t er lido a história do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda, e, agora, na sua fantasia doentia a confunde com a sua vida. Já ouvimos dizer que ele é um doido manso que fugiu do Hospício de Barbacena. Era isto que se dizia daquele mendigo." Os Os coveiros olharam para o céu, que mostrava nuvens escuras anunciando uma chuva forte. Terminaram o serviço batendo, com força, as pás sobre a terra para que uma possível enxurrada não abrisse buracos na cova. Malachias, Eusébio e Afonso deixaram o cemitério às pressas, pois a tempestade que estava se armando pelos lados da Serra da Ventania, era certeira.
                Sem encomendação, sem caixão e sem uma flor sequer, o mendigo, cujo nome ninguém sabia, foi sepultado, naquele 1 de novembro de 1942, dia de Todos os Santos, véspera do Finados, na cova número 33
                Por volta das oito horas da noite o céu de Serrana escureceu, e uma chuva torrencial, acompanhada de ventos fortes e de raios que caiam aqui e ali, deixou a cidade mergulhada na escuridão depois que um raio atingiu o transformador da Companhia de Força e Luz. Em cada casa, velas e lampiões foram acendidos; e orações saíram de bocas temerosas pedindo a Santo Antônio que acalmasse a fúria dos elementos. Quando era alta madrugada a tempestade amainou, mas a cidade continuou mergulhada nas trevas até que o dia amanhecesse. Era Finados. Receando os danos que a chuva teria causado, os dois coveiros dirigiram-se mais cedo para o cemitério. Às oito horas começariam as visitas aos mortos e esperava-se que centenas de pessoas fossem levar as flores da saudade aos túmulos de pais, irmãos, parentes e amigos. Eusébio e Afonso temiam, sobretudo, que as enxurradas houvessem removido a terra nas covas rasas dos indigentes que haviam sido sepultados nos últimos dias. Logo que abriram o pesado portão do campo-santo foram direto olhar a cova onde haviam sepultado "Pé de Chinelo". Estupefatos não acreditavam no que os seus olhos mostravam. A enxurrada não havia passado sobre aquela cova rasa e junto à cruz improvisada havia nascido, durante a noite, uma planta que já havia crescido uns dez centímetros. Primeiro, acharam que alguém fizera uma brincadeira no dia anterior e que a planta estava simplesmente fincada na terra e que a um leve puxão se desprenderia. Tentaram isto. Mais surpresos ficaram porque a plantinha mostrava que estava enraizada e não fincada como pensaram. Cada um perguntava um ´para o outro:
                - O que isto significa ? Que planta é esta que brotou durante a noite?
Eusébio tomou a iniciativa de ir até o Jardim da Praça e chamar o Caburé para dar uma olhada naquele fenômeno. Não contariam, por enquanto, a ninguém. Era hora de abrir o portão do cemitério para as visitas de Finados. Um grupo de pessoas já estava à espera do lado de fora. . Eusébio abriu o portão e recomendou para que não pisassem sobre os túmulos e sempre caminhassem nas ruas internas. Dito isto foi saindo em direção ao Jardim para chamar o Caburé. Caburé veio logo e dirigiu-se à cova 33. Tirou um pito do bolso e agachado foi examinando a curiosa plantinha. Tocou-a, cuidadosamente, com os dedos e afirmou que era um tipo de roseira. A presença do Caburé chamou a atenção de alguns visitantes e se agruparam em torno da cova. Falastrão que era, Caburé não guardou segredo e perguntou se alguém sabia de algum tipo de roseira que havia nascido e crescido da noite para o dia? Ninguém sabia. A notícia espalhou-se incontinente e mais e mais pessoas foram se juntando em torno da cova. Os coveiros, temerosos que alguém pisasse naquela plantinha ou afundasse os sapatos na terra , resolveram, construir, às pressas, um cercado em torno da cova.
                De tarde, toda Serrana sabia do misterioso fenômeno que acontecera com o nascimento de uma roseira na sepultura do "Pé de Chinelo". O pároco, o juiz de direito, o delegado, o prefeito e os vereadores haviam subido até o Cemitério " São João Batista " para inspecionarem , " in loco", o fenômeno. Se curiosos haviam subido, estupefatos e com algum sentimento de culpa, haviam descido para suas casas. Por iniciativa do delegado resolveu-se que dois praças iriam vigiar aquela cova durante aquela noite e as seguintes. O que mais poderia acontecer? Vagarosa e inexplicavelmente a roseira continuava a crescer apoiada no eixo da cruz de sarrafo. Sem autorização do padre, algumas beatas começaram a rezar junto à cova rasa e ensaiavam um murmúrio que "São Pé de Chinelo, rogai por nós!"
                A crendice popular, frente ao mistério e ao inexplicável, estava canonizando o mendigo que, em vida, só fora ouvido pelas crianças. No décimo dia veio da Escola Superior de Agronomia de Viçosa um botânico para estudar o fenômeno. Ele confirmou que era uma roseira e ninguém colocou em dúvida a classificação que o professor Warwick Volf Rosenstraten fez da roseira, pois era um roseirista reconhecido em todo mundo. Tratava-se, sem dúvida alguma, de uma R. spinosissima, natural da Escócia e que produzia uma flor branca ou amarela, dependendo do terreno onde era cultivada. Caburé, que acompanhava a explicação do professor, ficou mais espantado porque informou que em Serrana, em nenhum jardim, havia alguém cultivado aquela espécie. O professor Warwick voltou para Viçosa sem poder explicar porque ela nascera naquele lugar e crescia tão rapidamente.
                O mistério entrou no seu décimo oitavo dia, e, naquele dia, uma surpresa e um espanto a mais vieram se juntar e deixar mais desassossegados os serranenses. Uma rosa branca havia se aberto e estava apoiada no centro da cruz. O fato trouxe mais crentes ao cercado da cova e entre orações e pedidos de graças, alguém lembrou que "Pé de Chinelo" era um fiel do terço e que levava, todas as tardes, uma rosa à imagem de Nossa Senhora.
                Um estranho à cidade, onde todo mundo se conhecia, se juntou à considerável multidão. Havia chegado pelo trem Expresso, possivelmente do Rio de Janeiro, e especulava-se que fora visitar o túmulo de algum parente morto, fora do Dia de Finados. Era um homem alto, rigorosamente trajado de preto, dos seus cinquenta anos, que revelava no olhar e no andar uma autoridade peculiar. Ouviu os comentários dos crentes e como se esperasse, foi interrogado por alguém :
               - O senhor, que não é daqui. O que acha disto tudo? Quem era o "Pé de Chinelo"? Demorando um pouco a responder, enquanto olhava, profundamente, os circunstantes, o estranho respondeu :
                - Para vocês eu gostaria de esclarecer algumas coisas. Primeiro, ele não era um pé de chinelo. Na época em que o Rei Arthur, da Inglaterra, constituiu a sua Távola Redonda e sagrou os seus cavaleiros, era privilégio do cavaleiro oferecer uma rosa à sua Rainha e Àquela que é chamada de Rainha da Rosa Mística, a Mãe de Jesus. O cerimonial era bonito e inspirador. Mostrando que estava abaixo da Rainha dos Céus, a rainha depositava, em seguida, as rosas que lhe haviam sido ofertadas, aos pés da Senhora. Os cavaleiros que cumpriam esta bela e suave obrigação da Cavalaria ficaram conhecidos como Cavaleiros da Rosa e da Cruz. Os fenômenos que aqui ocorreram, e, hoje contemplando esta linda rosa branca apoiada nesta cruz, eu só posso deduzir que aquele que está aqui sepultado não é um santo. É um cavaleiro. Ele foi agraciado com o perdão da sua Senhora e do seu Filho. É um Cavaleiro da Rosa e da Cruz."
                Após aquela explicação reinou um profundo e grande silêncio. Imediatamente os circundantes abriram uma fileira, e o estranho foi se afastando daquele grupo, sem a ninguém olhar e despedir, até desaparecer ao cruzar o portão do campo santo. Alguns populares tentaram ir atrás daquele homem e saíram às pressas à sua procura, pois desejavam mais explicações. Na rua, olharam para todos os lados, mas não mais o avistaram.
                Até hoje, passados mais de sessenta anos, os velhos contam às novas gerações esta estranha história. Alguns acreditam, outros, não!
                Uma última surpresa estava reservada aos serranenses. Quando passou o tempo legal de permanência do corpo na terra, e estima-se que pouco resta e os ossos são destinados ao ossuário comum, a cova foi aberta para receber outro corpo. Nada foi encontrado! Nenhum osso, nenhum fio de cabelo, nada, absolutamente nada que indicasse que ali estivera sepultado alguém. Com um misto de respeito e temor o coveiro cobriu de terra aquela cova rosa e tornou a fincar uma cruz de madeira com o número 33. Ela não receberia nenhum corpo enquanto existisse aquele cemitério em Serrana. O novo coveiro, o Eusebinho, filho de Eusébio, ficou a olhar aquela cova vazia e pensou que o número 33 correspondia à idade de Jesus Cristo, o Único Ressuscitado entre os mortos ou será que?... Não quis completar o que conjecturava. O sino da Matriz batia as 6 horas da tarde e o sol já desaparecia nos altos da Serra de São Geraldo. Eusebinho podia olha-lo na sua variação de cores que dava ao entardecer um colorido todo especial e projetava a sombra de um cruzeiro que existia na entrada do cemitério. Era hora de deixar seu trabalho. Da cidade não vinha mais o ruído costumeiro dos automóveis e nem os apitos das usinas de açúcar anunciando a mudança de turnos. Serrana preparava-se para a noite que chegava e o repouso que prometia do trabalho do dia. Como fazia todas as tarde, ao fechar o pesado e imponente portão, ele fez o sinal da cruz, olhou mais uma vez para o interior do campo santo e disse para si : " Descansem em Paz."
Antonio Ribeiro de Almeida
publicado por SISTER às 06:20

Antes de criar, o vazio faz transbordar os limites do nada.
Por entre a amplidão do azul de metilene, surgem sinais, pegadas e clones
com desejos de infinito.
O tempo é que vai decidir, como se não fosse apenas uma medida. Também não é
 aliás, por nos pesarmos muitas vezes que aumentamos ou diminuímos de peso.
Mas o espectador mínimo, a quem alguém já chamou ser humano, não se coíbe de
extravasar sentimentos e emoções, conforme o grau menor ou maior dos
estímulos.
Na confusão cósmica que o invade, o mínimo, por antinomia, quer ser o maior
expoente do universo.
O espaço e o tempo digladiam-se sem tréguas, logo veremos qual vencerá o
pleito.
Neste espaço sem tempo e naquele tempo sem espaço, ancoraram todas as
galeras do desconhecimento, criando variâncias  quase inexplicáveis.
 
Mas o Sol voltou a nascer, a Lua foi-se embora, e nesta pragmática aurora
radiosa tudo parece um livro branco onde se pode escrever uma nova história
de vida.
 
joaquim evónio
publicado por SISTER às 06:20

Sur..allá voy ...
              por mi cuenta y naturaleza

              Respiraré el   amor,
              en esa latitud de tanta belleza
              que se encuentra

              Abajo  de la linea  del  ecuador, en el  frio
               y  el  calor de su Amor
              Me calentaré en las   mantas de sus cariños
              Estremecereremos los colchones con su placer
              Nos dejaremos estar, oyendo en
              paz   su resonar
              Volaremos en las alas de la imaginación  ,
              y de nuestro soñar

              Veremos al sol nacer
              en el amanecer de su mirada
               Mirare al cielo  y por tenerte   oraré


              Agradeceré  a Dios ,
              por la vida que contigo me dió
              en el sur... allá dónde
              esta mi amor


              Joe'A
publicado por SISTER às 06:20

Cuando precisares de mi, llama por  mi nombre,
                    Que yo cambié de seguida, para  confortarte y oírte.
                    Me dirás de tus razones, antes que el miedo te tome,
                    Prometo ampararte y nunca por nunca, desiludirte.

                    He de escucharte y no dejaré que nada nos incomode,
                    Apenas ruego y en el silencio secreto iré entonces a pedirte,
                    Que aquel tu sueño, tan rebelde, no se conforme
                    Con el juicio de los hombres, cuando intentan disminuirte.

                    Seremos una, la misma persona, el poeta sin algoz,
                    Y tu la  Musa mía encantada, que a todos sólo cautiva
                    Y hace con que este mundo parezca todo menos atroz.

                    Muchas alegrías viviremos juntos, en este amor sólo tan
                    Nuestro, eres aquella que, queriendo o no, me motiva
                    A ser quien soy, buen hombre, de un único corazón.

                    Jorge Humberto
publicado por SISTER às 06:20

Por caminhos, tortuosos, sobre-humanos, passei,
      Andei à míngua, e dolorosamente, pão mastiguei,
      Pois que me faltavam os dentes, que a malquista
      Droga, me hei levado, para longe, de toda a vista.

      Muitas vezes pedi socorro baixinho, me entreguei,
      Ao dia a dia, feito cegueira; meus punhos aí cerrei
      Contra toda esta maldição, contra todo alquimista,
      Que na mão punha o saco que perto de mim dista.

      Dormi ao relento, se dormir fosse então já possível,
      Pois que a falta se sobrepunha a tudo, e consumia,
      O pouco alento que aí me sobrava, ainda discutível.

      E como não podia deixar de ser a Overdose surgiu,
      Por mais de uma vez, e a auto inflação me distraia;
      Eis que, não podendo nada contra mim, me mentiu.

      Jorge Humberto
publicado por SISTER às 06:20

Certo dia, um rabino reuniu seus alunos e perguntou:
 
- Como é que sabemos o exato momento em que a noite acaba e o dia começa?
 
- Quando, à distância, somos capazes de distinguir uma ovelha de um cachorro - disse um menino.
 
O rabino não ficou contente com a resposta.
 
- Na verdade - disse outro aluno -, sabemos que já é dia quando podemos distinguir, à distância, uma oliveira de uma figueira.
 
- Não é uma boa definição - respondeu o sábio.
 
- Qual a resposta então? - perguntaram os garotos.
 
O rabino então falou:
 
- Quando um estrangeiro se aproxima e nós o confundimos com nosso irmão, este é o momento da aurora, o momento em que a noite acabou e o dia começa.
 
...............
 
O amor ao próximo está em todas as crenças, em todos os tempos.
 
Os mestres, os sábios, os missionários, sempre ensinaram e exemplificaram esta lição, proclamando que a aurora da humanidade virá quando descobrirmos uns aos outros, quando admitirmos que somos filhos de um mesmo pai, que temos o mesmo objetivo, e que por isso precisamos caminhar juntos.
 
É tempo de abrir o coração para outras almas, de deixar os preconceitos de lado, as exigências descabidas, e conviver mais com as pessoas.
 
Muitos têm medo de se ferir. Muitos se afastam de todos por egoísmo.
 
Seja você uma exceção. Seja aquele que valoriza as amizades, aquele amigo que está sempre lá, "pro que der e vier", como se diz popularmente.
 
Seja aquela pessoa que gosta de ter a casa cheia, que gosta de receber visitas, que gosta de compartilhar as conquistas com os outros.
 
Seja você aquele que liga para desejar feliz aniversário, aquele que escreve um longo cartão de natal falando do ano que se passou, e o quanto aquela pessoa lhe foi importante.
 
Seja aquele amigo que destaca as virtudes do outro, e que até discorde algumas vezes, mas discorde com delicadeza e psicologia.
 
Seja você alguém que cumprimenta a todos, e que receba aqueles que ainda não conhece bem, com um sorriso, com um "bom dia".
 
Finalmente, seja você a aurora dos que estão à sua volta, dizendo-lhes, através de seu otimismo, que o dia se aproxima, e que a noite logo termina.
 
...............
 
"O momento da aurora se aproxima.
 
Muitas vozes já proclamam a chegada de um novo tempo.
 
Tempo que está no coração do homem.
 
Tempo que está no calor de seu abraço.
 
O momento da aurora se aproxima.
 
E a noite será passado, e o sol será presente.
 
Presente para aqueles que se tornarem espelho e refletirem, em seu próximo, toda luz que receberem."
 
Paulo Coelho.


publicado por SISTER às 06:20

Labios ventanas del alma
      el corazón, siente y dice
      si ama... se declara
      si desea... se embriaga
      si se enamora...el deseo entrega
      si repulsa...los labios se cierran
      Pero el beso de los amantes
      enamorados...corazones inebriados
      y almas hechizadas
      la razón, emborrachada
      En el beso el amor se entrega
      los cuerpos calientes se ofrecen
      el deseo incendia la pasión
      y zambulla en el vulcán
      la más pura fusión
      en lavas de sensaciones
      derretidas en las emociones
      en la más plena erupción
      iluminando el corazón
      diluyendo la razón
      Amor, acción y reacción
      Esencias del placer en fusión
      Realización en profusión
      Cuerpo y alma, acariciando el corazón
      Beso es donación, atracción de la pasión
      Cariño, caricia, amor, deseo
      Sin beso, nao hay amor en el corazón
      Joe'A
publicado por SISTER às 06:20

O sufismo é uma alquimia, a ciência da alma interna. Ele é uma
experimentação em consciência. Somente o resultado define se o que você
estava fazendo era certo ou errado. Não existe outra maneira de definir
isto.

As filosofias continuam dando voltas em círculos, elas nunca levam você a
lugar algum. O sufismo está cansado de filosofias. Na verdade, todos os
grandes místicos estão cansados de filosofias. É por causa do lamaçal das
filosofias e suas confusões que as pessoas estão impedidas de conhecer
aquilo que lhes é direito conhecer.

 

Você não perde Deus por causa de seus pecados, mas sim devido ao que você
chama de conhecimento.

O sufismo é uma experimentação para uma certa experiência. Ele não é um
caminho de crença, mas de conhecer, de experienciar. Ele é existencial.
Experiência de que? Experiência de si mesmo. Ele não é especulação por
especulação. Ele tem uma metodologia que resulta na mais sublime de todas as
experiências - chame isso de Deus, Nirvana, moksha, liberação, ou o que você
quiser. É a experiência mais sublime de todas. É a maior experiência na
vida. E sem esta experiência, ninguém jamais sente qualquer contentamento,
não consegue sentir. O significado de estarmos aqui é para alcançarmos esta
experiência. Este é o nosso potencial, ele tem que se tornar real. Esta é a
nossa semente: ela tem que desabrochar em todas as cores e fragrâncias. E a
não ser que a semente se torne uma flor, nós permaneceremos na dificuldade,
no desconforto, ansiando por alguma coisa sem saber exatamente o que é.
Procurando, tateando no escuro...

 

O homem permanece procurando, tateando no escuro. E a procura só termina com
Deus e nunca de outra maneira. O que é Deus? A experiência do seu próprio
centro interior. Deus não está lá. Deus está aqui, dentro do seu coração,
pulsando, respirando, consciente. Deus está muito perto.

 

Ramana Maharshi diz: Autoconhecimento é uma coisa fácil, a coisa mais fácil
que existe. Porque ele está tão próximo! Ele já está aí, ele sempre esteve
aí. Basta uma olhada, basta ligar, e você já não será mais um pedinte, terá
alcançado a qualidade de imperador, e você será empossado, será coroado, e
se tornará um rei. Basta uma olhada para dentro... Mas isto é o que os Sufis
dizem. Ramana é um Sufi.

 

Eu estou usando a palavra 'Sufi' no significado mais amplo da palavra.
(Neste sentido,) Buda é um Sufi, Jesus é um Sufi, Ramana é um Sufi. Por
'Sufi' eu quero dizer aquele que está enfastiado de filosofias e que começou
a procurar por aquilo que é verdadeiro, aquele que não mais se satisfaz com
alimento sintético e está à procura de nutrição verdadeira.

 

Ramana diz: Autoconhecimento é uma coisa tão fácil quanto qualquer outra
coisa fácil que exista. Mas, exatamente o oposto disso está nesta frase de
Emanuel Kant, um grande filósofo: 'A metafísica é um chamado à razão para
empreender novamente a mais difícil de todas as tarefas que é o
autoconhecimento.'

A filosofia torna isto difícil, muito difícil, quase impossível - porque a
filosofia se movimenta cada vez mais distante, bem longe disto. Saber a
respeito do Ser não é conhecê-lo; saber a respeito de Deus não é conhecer
Deus - como pode o 'a respeito de' ser aquilo. A respeito, a respeito...
Você segue em círculos. Isto se torna impossível.

 

Quanto mais você se torna esperto, ardiloso, calculista, a respeito do a
respeito, você será levado a se perder. Não é uma questão de saber a
respeito do Ser; é simplesmente uma questão de conhecê-lo, estar consciente,
não é uma questão de se pensar a respeito dele, mas de estar centrado nele.
Sentando-se silenciosamente nele, ele é revelado.

 

Ramana está certo, ele tem que estar certo, pois ele conhece. Emanuel Kant
não está certo, ele não pode estar certo, pois ele nunca conheceu o Ser.
Embora ele tenha tentado e trabalhado arduamente - ele foi um dos intelectos
mais aguçados que existiu. Sua perspicácia não pode ser colocada em dúvida.
Sua lógica era perfeita. Mas, no que se refere a seus insights, ele era
cego.

 

É como um homem cego pensando a respeito da luz - é certo que será
impossível. Como pode um cego pensar a respeito da luz? (...)

 

Os Sufis acreditam no ver. Ver é fácil; pensar é difícil. Se você tiver
ouvidos, saberá o que é música, mas se não tiver ouvidos, como poderá pensar
a respeito de música? De que maneira? É impossível. Não existe maneira de
comunicar a você o que é música. Se você tem olhos, você conhece as cores e
a beleza de um arco-íris. Mas se você não tiver olhos, nem mesmo o maior dos
poetas poderá lhe dar uma idéia do que é um arco-íris, é impossível.

 

Os Sufis não acreditam no pensar: eles acreditam no ver.

 

Você deve ter ouvido o famoso ditado: ver é crer. É exatamente isto o que os
Sufis dizem: ver é crer.

Um famoso ditado Sufi diz: aquele que conhece os outros, é erudito; aquele
que conhece a si é sábio. Ser erudito é fácil, para ser sábio tem que ter
vísceras, coragem. Por que? Porque no mundo é preciso ser corajoso para
conhecer a si? Existem razões.  

 

A primeira razão é: existe um medo de que se você mergulhar em si mesmo,
poderá não encontrar alguém lá...E de certa maneira este medo está certo.
Você não vai mesmo encontrar alguém lá. Esta apreensão está certa.

 

Se o Naresh entrar em si, não vai encontrar o Naresh lá. Se a Astha entrar
em si, ela não vai encontrar Astha lá. O mesmo com a Sudha e com o Viyogi.
Alguma coisa vai ser encontrada lá, mas é algo que não se define, é algo que
não se expressa em palavras. E este algo não é sua posse; este algo é tanto
seu quanto é de todo mundo.

 

Você encontrará algo, mas será o centro universal. Você não encontrará
qualquer indivíduo lá, nenhum ego será encontrado. Por isto, o medo. Você
irá desaparecer. No autoconhecimento você irá desaparecer completamente. Por
isto as pessoas conversam a respeito dele, perguntam a respeito dele, lêem
livros a respeito, mas nunca entram. Um medo inconsciente impede seu
caminho.     

 

Adventure

Osho Zen Tarot

 

E o homem moderno particularmente tem muito mais medo. O homem moderno é
freqüentemente levado ao desespero porque ele tem medo de que o Ser não
exista em definitivo ou que ele seja uma máquina nazista, um robot
Skineriano, uma barata Kafkiana, um rinoceronte de Ionesco ou uma paixão
inútil Sartreana. Todos esses medos explodiram na mente moderna.

 

Quem sabe? Quando você mergulhar em si, poderá encontrar a barata Kafkiana.
Existe uma parábola de Kafka: Certa manhã ele acordou e descobriu que era
uma barata. Deve ser um sonho, ele deve ter acordado dentro de um sonho. E
não era apenas isto, a barata estava de pernas para o ar, e ele conseguia
ver aquelas pernas se movendo no ar, e ele não conseguia se virar para
posição certa, ele estava de costas. E você pode imaginar... a miséria do
homem, a agonia e a náusea. E ele tentava arduamente, mas parece que não
havia jeito de se virar. Uma grande barata ocupando toda a cama.

 

O homem moderno tem ainda mais medo. Quem sabe no que você vai tropeçar
quando mergulhar em si? Pesadelos, monstros... Quem sabe o que está lá
dentro? Por que abrir a caixa de Pandora? Mantenha-a firmemente fechada e
sente-se em cima. Isto é o que todo mundo está fazendo. E, sob certo
sentido, o medo está certo - mas somente sob certo sentido.

 

No começo você encontrará baratas, rinocerontes, répteis e todo tipo de
coisas horríveis - porque estas são as coisas que você esteve reprimindo em
si mesmo, estas são as coisas que você não permitiu. Você reprimiu a raiva,
o ciúme, a possessividade, o ódio. Você reprimiu a violência e o
assassinato. Todas estas coisas estão ali. Esta é a barata que está dentro
de você. A violência tornou-se uma perna, a possessividade tornou-se outra e
o ciúme uma outra mais...

 

Quando mergulhar dentro de si, você terá que encarar tudo isto.
Naturalmente, esta não é a história toda. Se você puder encarar a barata, se
você puder ir cada vez mais fundo, sem qualquer medo, e observar tudo o que
estiver acontecendo, e lembrando-se que 'eu sou apenas um observador, uma
testemunha a tudo isto. Eu não posso ser a barata porque eu posso ver...' o
que você consegue ver não é você.

 

Guarde isto como uma chave, uma lembrança constante: tudo o que você vê, não
é você. Você vê a raiva? Então você não é ela. Você vê a fome? Então você
não é ela. Você vê a sexualidade? Então você não é ela. Você é aquele que
testemunha tudo isto. Lembre-se da testemunha e, pouco a pouco, todas as
baratas desaparecerão, assim como todos os rinocerontes e tudo o mais que é
feio.

 

O testemunhar é um fenômeno tamanho que dissolve tudo que é feio. Pouco a
pouco, somente a testemunha permanece. Mas esta testemunha não será você;
ela é Deus. Esta testemunha não pode ser confinada em um Eu - ela é puro
ser.

 

Há poucos dias eu lhes disse que existem duas inscrições gravadas no templo
de Apolo em Delfos: 'Conheça-te a ti mesmo' e 'Nada em excesso'. Há uma
relação entre estas citações. O homem era aconselhado a conhecer a si mesmo,
e no seu conhecer ele deveria evitar extremos. Quais são os extremos?

 

Dois são os extremos: o inferno e o céu, as baratas feias e as lindas
borboletas. Você tem que permanecer uma testemunha de ambas. Você não é nem
a barata nem a borboleta com cores psicodélicas. Nem isto nem aquilo - neti
neti. Você é apenas o observador, o espelho que reflete a barata e que
reflete a borboleta.

De acordo com os sacerdotes de Delfos, um extremo era a tentativa de ir além
de sua finitude, agir como se fosse infinito. Isto acontece. Se você for
para dentro, ou começa a sentir que é alguma coisa como uma criatura do
inferno, ou começa a sentir que você é um anjo, uma criatura celestial. Mas
em ambos os casos você novamente criou um ego. Evite os extremos, porque o
ego consegue existir apenas com os extremos. Ele morre no meio. O meio
dourado é a sepultura do ego.

 

Os gregos costumavam chamar estes extermos de hybris. Este termo designava
os extremos e quer dizer: uma afronta contra a natureza das coisas. Não
comece a pensar que você é celestial, que você é um mensageiro de Deus, que
você foi especialmente enviado ao mundo para entregar a última mensagem, que
você é o filho de Deus, que você é o único mensageiro, o único verdadeiro, o
único Mestre, o único Mestre perfeito... Evite estas tolices. Deus vem
através de muitos caminhos, e suas mensagens continuam filtrando no mundo.
Não apenas através de Jesus, Buda e Maomé. Mesmo quando um cuco canta, ele é
a mensagem de Deus. E Jesus não é o único filho de Deus, caso contrário,
todo o resto do mundo seria órfão.

 

Cada árvore, cada animal, cada pássaro é tão filho de Deus quanto qualquer
um outro. Não que somente Maomé seja o profeta - os rios e as montanhas,
todos eles são seus mensageiros e seus profetas. Sua mensagem continua sendo
derramada em todos os lugares, em todos os nichos, em todos os cantos.
Assim, não entre nessa idéia, senão o ego entrará por detrás da porta, e irá
criar problemas para você novamente. E você terá perdido o autoconhecimento.

 

Os gregos têm uma palavra especial para isto - eles chamam isto de hybris. O
outro extremo é a tentativa de agir como se o indivíduo não fosse um membro
da sociedade, tornando-se um monge, entrando na solitude. Você é parte da
sociedade, você nasceu na sociedade, você vive em sociedade. A consciência
social é como um oceano para você - você é um peixe neste oceano. Você não
consegue viver sem ele. E aqueles que tentam viver sem a sociedade quase
sempre se tornam pervertidos. Sim, de vez em quando é bom descansar por uns
dias num retiro nas montanhas, só para um descanso, mas você tem que voltar
para o mundo. Sim, é bom meditar por algumas horas, mas depois você tem que
voltar para o mundo. Não se torne um monge. Não comece a pensar que você
está separado, porque o autoconhecimento não pode ser alcançado na
separação. Ele é alcançado na união. 

 

We are the world

Osho Zen Tarot           

 

E a união mais íntima possível é com outra pessoa. Como você pode estar em
comunhão com as árvores se você não consegue estar em comunhão com pessoas?
Como você pode estar em comunhão com as pedras se você não consegue estar em
comunhão nem mesmo com seu amado ou sua amada? Isto é absurdo! Toda esta
idéia é absurda. Um homem está dizendo, 'Eu estou deixando minha esposa e
minhas crianças porque elas são uma prisão para mim e eu estou indo para as
montanhas, para estar em comunhão com as montanhas.' O que ele está falando
é besteira. Não será possível para ele estar em comunhão com as montanhas,
pois elas falam uma linguagem, totalmente diferente. Elas estão muito atrás
da consciência humana. Para se relacionar com elas você terá que se tornar
uma montanha - somente então você conseguirá se relacionar.

 

Se você não consegue se relacionar com seres humanos que são tão evoluídos
como você, que pertencem ao mesmo mundo de linguagem, que pertencem ao mesmo
nível de vida, você não conseguirá se relacionar com ninguém mais, em lugar
algum. Não seja tolo. 

 

Os gregos foram muito específicos a respeito destes dois extremos. Aquele
que vivia fora da sociedade era chamado de um ser privado. Eles tinham uma
palavra bonita para isto, eles chamavam a pessoa de idios. É desta palavra
que surgiu 'idiota'. Idios era o nome para tal ser. Se você fosse de verdade
para fora da sociedade, então se tornaria um idiota. Esta é a minha
observação.

 

Eu tenho visto pessoas vivendo anos e anos nas montanhas e elas se tornam
idiotas. Elas têm que se tornar idiotas, pois lá não há qualquer desafio,
nenhum ser humano para provocá-las, nenhum desafio humano para aguçar suas
inteligências. É muito provável que elas se tornem idiotas. O crescimento
não é possível lá.

Elas podem viver num silêncio, mas o silêncio será das montanhas, não é uma
realização delas. A não ser que você consiga viver o silêncio na praça do
mercado, ele não será uma realização sua. Ao retornar do Himalaia você, de
repente, ficará chocado, pois continuará sendo a mesma pessoa que era antes
de ter ido para lá, talvez você esteja até pior. Você não será capaz de
tolerar o barulho, o tumulto do mundo. Que tipo de realização é esta? Em
lugar de se tornar mais capaz, mais integrado, você terá se desintegrado,
terá se enfraquecido. Você não ganhou força.

 

'Conheça-te a ti mesmo', mas nesse seu conhecer, não se torne um híbrido ou
um idiota! O ego fica inflado - 'Eu sou uma alma', 'Eu sou infinito', 'Eu
sou eterno', 'Eu sou isto e aquilo'... Se o eu continua presente, então você
nada é. Quando o Eu se vai, então sim, Deus está, a imortalidade está, mas
nada disso você pode possuir, nada disso você pode guardar em seu
caixa-forte. E isto nada tem a ver com você! Isto pertence à existência. E
você também pertence à existência.

 

Este é o primeiro extremo a ser evitado.

 

E o segundo extremo é: não se torne um idiota. Não comece a escapar das
pessoas, porque todo crescimento está ali com as pessoas, relacionando-se
com as pessoas, aceitando os desafios e respondendo a tais desafios.

Autoconhecimento é um conceito muito estranho, e você precisa compreendê-lo,
porque este é todo o trabalho de um Sufi: como conhecer a si mesmo. A
expressão 'si mesmo' é uma contradição em termos, porque no conhecimento
pelo menos duas coisas são necessárias: o sujeito que conhece e o objeto que
está sendo conhecido. E no autoconhecimento não existem duas coisas, mas
apenas uma. Como chamar isto de autoconhecimento? Quem é o sujeito que
conhece e quem é o objeto que é conhecido? A palavra tem que ser usada
porque nós não temos outra melhor para isto. Mas ela tem que ser usada muito
conscientemente, sabendo que ela não significa exatamente o que ela diz.

 

Autoconhecimento é um tipo de conhecer, mas não de conhecimento.É um tipo de
consciência, luminosidade, mas não conhecimento. Ele não pode ser
conhecimento porque isto requer duas coisas.

 

Este problema de autoconhecimento foi resumidamente e metaforicamente
declarado por Simone de Beauvoir. Ela diz, 'É fácil dizer: Eu sou Eu. Mas,
quem sou Eu? Onde encontrar a mim? Eu teria que estar do outro lado de todas
as portas. Mas quando sou eu quem bate na porta, o outro, do outro lado, se
torna silencioso. Para conhecer o ser, o ser deve estar em ambos os lados de
uma mesma porta. Mas quando o ser que bate é o sujeito que conhece e está de
um lado da porta, não há ninguém do outro lado da porta para abri-la. E
quando existe um ser do outro lado, do lado do objeto que está sendo
conhecido, para abrir a porta, não há ninguém do lado do sujeito que conhece
para bater na porta! Então, o que se deve fazer?'

 

Entendeu? Se você é o sujeito que conhece, então quem estará ali para ser o
objeto conhecido? E se você é o objeto conhecido, quem estará ali como
sujeito para conhecer? Isto é o que Beauvoir quer dizer, que você tem que
estar de ambos os lados da porta. Por exemplo, se você está batendo na porta
e você é o único ali, não haverá ninguém do lado de dentro para responder à
sua batida. Se você está do lado de dentro da porta e pronto para abri-la,
então não haverá ninguém do lado de fora para bater nela. Você terá que
estar em ambos os lados. Só assim haverá alguma comunicação e algum
conhecimento.

 

Isto é impossível. Como você pode estar nos dois lados da porta? Isto parece
mais um koan Zen, e é. Este é o koan básico. A partir deste koan, milhares
de outros koans foram criados. Então, o que se deve fazer?

Alguém dirá: 'continue batendo!' Este é o caminho da vontade. 'Continue
batendo!' Jesus disse: Peça e lhe será dado. Bata e a porta lhe será aberta.
Procure e você encontrará.

 

Esta é uma resposta: Continue batendo... persevere, seja paciente. Não se
sinta frustrado se a porta não está abrindo. Continue batendo, continue
batendo...Um dia a porta se abrirá. Esta é uma resposta.

A outra resposta é: 'Pare de bater e espere!' Este é o caminho da entrega,
da devoção, do amor, da prece. O primeiro é o caminho do iogue que funciona
através do poder da vontade. O segundo é o caminho do devoto que entrega e
espera, confia e ora.

 

Mas eu lhe digo: Olhe... Não existe nenhuma porta para bater e ninguém para
bater nela. E mais, a porta está aberta. Ela tem estado aberta por todo o
tempo, desde o começo. E não existe nenhum ser para ser conhecido e nenhum
autoconhecimento. Conhecer, naturalmente, existe, mas nada como
autoconhecimento.

Isto foi o que a grande mística Rabia disse para Hasan:

 

Hassan costumava orar todos os dias diante do mosteiro, sentando-se na rua.
E ele chorava em prantos, olhava para o céu e dizia, 'Deus, abra a porta! Eu
tenho esperado há tanto tempo. Não foi o suficiente? Terei eu que passar por
mais testes? Você ainda não me testou o suficiente? Abra a porta! Eu estou
chorando. Eu estou em prantos. Eu estou gritando - abra a porta!'

 

Esta era a sua constante prece, toda manhã e toda tarde. Onde quer que
estivesse, ele ia ao mosteiro, sentava-se na rua e orava.

 

Rabia estava passando um dia. Ela bateu na cabeça do Hassan e disse, 'Que
tolice você está falando? A porta está aberta! Mas você está tão absorvido
em seus gritos 'Abra a porta! Escute-me, Senhor. Por que você não abre a
porta?' Você está tão ocupado com essas tolices, que você não consegue ver
que a porta está aberta. Ela sempre esteve aberta'.

 

Eu concordo com Rabia... Tudo está disponível. Você não precisa lutar. Você
nem mesmo precisa se entregar. Porque a entrega é a polaridade oposta à
luta. Você tem apenas que estar no meio. Tem que estar no estado de
não-fazer, nem lutar nem se entregar. E de repente você será capaz de ver
que a porta está aberta. Você nunca foi a nenhum outro lugar. Você sempre
esteve aqui. Onde mais você poderia ir? Estar dentro é a sua natureza. E
então tudo é revelado como um relâmpago. De repente a escuridão desaparece e
tudo é luz.

Mas não existe ser algum para ser encontrado. O conhecer acontece, mas não
um autoconhecimento. Por isto o medo. Lá, bem no fundo, em algum lugar no
inconsciente, você sabe perfeitamente bem que 'Se eu for para dentro, eu não
encontrarei a mim mesmo. É melhor não ir para dentro, assim poderei
continuar acreditando que 'Eu sou!'

 

Este 'Eu' é a única barreira. Este 'Eu' é a única ignorância. Este 'Eu' é o
único pecado.

 

 

OSHO - The Perfect Master - vol. II - Capítulo 1

publicado por SISTER às 06:20

Hoje chorei... Confesso que chorei sim...
Acreditei poder ser tudo melhor, sempre...
Seguir na vida plantando somente o bem.
Chorei... Como chorei da maldade, a semente...
 
Chorei de impotência diante da desumanidade,
Por ver irmãos perversos... E tão egoístas...
Por saber que o amor não vinga, não dita regras.
Que só vence o mal...  O ódio dos materialistas...
 
Hoje chorei, chorei sim. Vendo inocentes
Morrendo sem entender a dor da fome...
Vi crianças brincando no meio do lixo...
Políticos difamando, do meu país, o nome...
 
Hoje chorei, chorei sim... Vendo a sabedoria
Da idade, se acabando no asilo, na orfandade.
Chorei a bondade hipócrita da humanidade...
O meu Brasil... Famoso... Pela imoralidade...
 
Chorei por temer quem caminha ao meu lado.
Por ver passantes... Olharem-me assustados...
Só o pranto pode aliviar tanta  decepção...
De ver irmãos completamente abandonados!
Mary Trujillo
publicado por SISTER às 06:20

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