Significava uma total descontração
a fantasia sem medida e colorida,
de ser quem queria ser sem punição,
o batuque inicial já me envolvia desinibida.
Entrava sambando na avenida
e não havia nada de abstrato mas,
o melhor que há num pleno anonimato,
sentindo todo delírio de um estrelato.
Com o enredo cantando nessa hora
parecia que revivia minha estória de ilusão,
Colombina que fui, Cigana do mundo afora,
a Nega Maluca, a Maria Bonita de Lampião.
A bateria eu ouvia, da Escola, bater o coração,
no choro das cuícas, no rufar dos tamborins,
com os pandeiros a reservar sofreguidão,
todos marcados, belo batuque o bater do bumbo,
que no adequado compasso especial,
como se manejado por cacique tupiniquim,
para que no samba ninguém atravesse,
oferece o seu inequívoco sinal retumbo.
Assim vivi carnavais sem outro igual,
cantei e sambei sambas imortais
como cantou a lira do poeta, sem ais,
"um verdadeiro sanatório geral,
que se chamava carnaval"...mas passou,
numa quarta-feira da velhice, sonho acordou,
porém no versejo minha voz ainda solta,
volta meu tempo de folia, por obséquio, volta!
Gui Oliva
De vermelho hoje me vesti
rasguei as páginas escritas em tinta vermelha
no vaso já murcha estava a última flor vermelha
ofertada por mãos que me tocaram um dia
jurando amor e que jamais me perderia
De vermelho hoje me vesti
a minha dor pintei na tela em tinta vermelha
na boca passei a mesma cor vermelha
nas veias o sangue fervia
da ferida aberta, sem piedade, escorria
De vermelho hoje me vesti
da lâmina afiada pingava o vermelho líquido
tingindo o que restou de um amor sofrido
olhei para o vazio e não mais te vi
para mim olhei, a cabeça ergui e guerreira resisti
LUIZA SAMPAIO