Comigo me encontro, às escondidas
Com a alma crivada de intranqüilidade
Comigo me encontro, no castigo
Escondendo meus olhos da realidade
Num gesto de vergonha consentida
Estou sozinha, mesmo, de verdade...
Bendita sombra que me esconde agora
Das frestas de toda essa realidade
Bendito vento que refresca a alma
Embaraça nos cabelos meus devaneios
Estende-se, debruça-se no alheio
Soprando brisas, em meu corpo cheio...
Bendita lua, que encharca com seus luares
Clarões que perpetuam lumes de ansiedade
Bendita imagem que gerada da imensidão, semeia
Corolas de anseios ainda no meu coração
Bendita flor que exala aromas celestiais
Angelicais perfumes, loucos de emoção...
Bendita visão que me embala a criatividade
Mesmo em tortuosos vexames de saudades
Anima meu ser a continuar vivendo
Trazendo na alma, lívida de espanto
Meu segredo de irreal encanto
O amor que escondo, sofrendo...
Benditas todas as criaturas
Que me escondem os meus lamentos
Que perpetuam todos meus alentos
Dando-me vigor, força descomunal
Para eu continuar meus sofrimentos
Apagando a vergonha destes tormentos...
Minh'alma chora e nesta chuva
Rolam face abaixo, lavando calma
Chuva de anseios tal qual em gotas
Num respingar as chuvas da alma
Matizam cores, esperaçando vida
Dando-me estilos em rimas sofridas...
E, de olhar pra ti, numa censura
Custa-me crer que foste a criatura
Que embalava meus sonhos com ternura
Mas és afinal uma sentença viva
És a revolta que meu peito abriga
Emaranhado desconforto que fatiga...