O amor jamais será
uma moeda de troca,
um toma lá e dá cá,
nem algo que se aloca.
Não importa o cenário,
se de abundância ou carência,
o amor supre o precário,
nos dá sentido à existência.
Esse poema de Camões,
expressa essa verdade,
sem amor não há razões,
pra nossa felicidade.
"Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos,
lhe fora assim negada sua pastora,
como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos,
dizendo: - Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!"
Se só o Verbo existia,
e o Verbo era Deus,
foi nessa eterna magia,
que nos criou filhos seus.
E sendo esse amor eterno,
pra vivê-lo intensamente,
sempre doce, puro e terno,
é curta a vida da gente.
O amor não tem dimensão,
e nem durabilidade,
sendo atemporal, então,
seu lastro é a eternidade.
O Amor é um bem sem preço,
sem custo e sem cobrança,
não tem sequer endereço,
pois tem o céu por herança.
Jamais será objeto,
de um ato comercial,
pois não se compra o afeto,
que é espiritual.
Embora se manifeste,
em abraços e paixões,
o amor sempre se veste,
em eternas dimensões.
Grande, pois, é a diferença,
entre amar e conviver,
e nossa maior ofensa,
é comprar o enternecer.
Se seu direito ao afeto,
só vem com as contas em dia,
o amor fugiu de seu teto,
deixando sua alma vazia.
Se muda o seu humor,
quando lhe foge a riqueza,
não chame isso de amor,
pois Deus nasceu na pobreza.
Se não recebes carinho,
por estar desempregado,
o amor fugiu do seu ninho,
está num canto jogado.
Se já não tens agilidade,
nem o calor da juventude,
como o amor não tem idade,
não há tempo que o mude.
As contendas dessa vida,
os altos e baixos tidos,
jamais fica de partida,
o amor dos tempos idos.
Não importa, pois, a aspereza,
nem os calos do sofrer,
nada desbota a beleza,
do amor que se pode ter.
E a Camões volto novamente,
com a força do seu dizer,
para dizer tão somente,
que amar é nosso viver.
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor"?
Bernardino Matos.