São as notas
que vibram em desacordes,
os semitons
que se perdem em surdina,
os agudos
que ferem a carne,
os graves
que assustam os sonhos,
a partitura
que faz dançar os compassos
aos olhos cegos,
os responsáveis
pela desarmonia.
Apenas as flores
ainda colocam a cor
sobre o velho piano
usado e descartado.
Algumas pétalas
mostram sinais de cansaço
e se preparam para tombar.
A voz ainda tenta,
enfraquecida e rouca,
ensaiar um lá menor.
O que se ouve
é apenas
o eco da saudade:
"E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão"...
Cleide Canton