No alto, o Sol brilhante, abrasador,
Espalhando a luz, intenso calor,
Na terra, as pessoas derramam suor,
Molhadas, famintas, sedentas de Amor.
O solo rachado, seco, imagem de dor,
O pobre, coitado, penitente roga ao Senhor,
Por se achar o culpado, assume o pecado,
Olhando o céu, chora, ora, sofre calado.
Enterrado vivo, se o que há pode-se chamar vida,
No desolado sertão, terra cruel, esquecida
Por quem quer que seja, até pela Igreja,
Não perde a esperança a alma sertaneja.
Aqui, o Sol majestoso, os seus raios fogosos
Também queimam a pele, tão dolorosos,
Não tanto quanto a daqueles que ficam esquecidos,
Num mundo distante, pela Sociedade proscritos.
Não estou lá, estou cá por puro privilégio,
Nascido abastado, por conta de algum sortilégio,
Não de riquezas materiais nem com título de nobreza,
Apenas de paz e proteção da mãe natureza.
O pão e o vinho, o carinho, me fartam à mesa,
Mulher amada, adorável, chamo de Alteza,
Conforto de um lar, abrigo de amigos valentes
Que me ouvem, me entendem, sempre presentes.
Ainda assim, ó que pecado, às vezes me abalo,
Sou tomado pela fraqueza da tristeza, do enfado,
A gota de chuva, o vento gelado, o calor
São alvos do meu azedume e do meu mau humor.
O Livro Sagrado sobre a mesa fechado,
Nem Provérbios nem Salmos, sou muito ocupado,
O Mundo mudado, condenado às profecias,
Ignoro o exemplo do sertanejo, sou refém das fantasias.
O tempo veloz, enquanto minha voz não sai,
Vira páginas, dita regras, a vida se vai,
De repente me vejo diante do espelho, sinto arrepio,
A faca no peito, a existência por apenas um fio.
Vem a noite, nuvens negras marcam presença,
Encobrem o brilho da Lua, não pedem licença,
Fico desapontado, com ciúme desajeitado,
Reclamo, faço pouco, fico estranho e desolado.
Na manhã seguinte, acordado, volto à realidade,
Faço uma pausa, uma prece, retomo a felicidade,
Caio em mim, entrego minha alma à expiação,
Aos pés do Criador, ajoelhado, deposito meu coração.
Tudo que ora falo, quase sem nexo, em profusão,
Procede do espírito sedento de reparação,
Um pouco confuso, registro em versos o ocorrido,
Sou consciente, me sinto feliz desde que nascido.
Alceu Sebastião Costa