Um amor quando parte leva metade da gente,
um grande naco do coração, da alma um pedaço.
Leva alguns fios de cabelo no deslizar do pente,
que alisa a rudeza ao desembaraçar do laço.
Os afetos amorosos criam vínculos fortes,
e quando chega o cruel momento da partida,
a vida nos coloca frente à duas mortes:
aquela que se desenrola em nós, e a da despedida.
A solidão se torna então um pesado caminho,
ao se apagarem as luzes e o fechar das janelas.
Já não há mais quem nos acolha no doce ninho,
e os lençóis vigiam a lenta insônia como sentinelas.
Os retalhos de um coração inquieto se espalham,
pela escuridão do quarto, a relembrar o passado.
As horas correm vagarosas e na penumbra se agasalham
os pensamentos dispersos e as mágoas secas do derreado.
Mas a dinâmica da vida preserva o restante do órgão,
que abriga a amorosidade que a criatura necessita.
Assim, os sonhos começam a aquecer de novo o coração,
na esperança de que breve, outro Amor chegue em doce visita.
Guida Linhares