Não fazer nada. Só observar o silêncio.
Desligar-me completamente
do quotidiano.
Do que me diz e perdiz.
Sair por aí sem rumo marcado
guardar as horas no bolso e esquecer-me
das minhas tarefas e responsabilidades.
Subir a umas escadas quaisquer e tocar
o céu, só por imaginar.
E lá do cimo de tudo o que alcanço
por um instante impar
ver-te passar solene e formosa a caminho de casa:
mais nenhuma mulher me interessa ou desperta
do meu sono acordado.
E onde a orla do rio tocar meus pés
deixar aí os meus pensamentos
como borboleta insinuando-se na água.
E escutar o som dos pinheiros em verde ouro
balançando ao leve sabor da brisa.
Sentar-me e deixar-me adormecer, mas
só por fora, onde a fotografia não possa criar incesto.
Sentir o vermelho do sol entrando pelas
minhas pálpebras fechadas e imaginar que não sou aqui
mais que uma parte integrante da Natureza
que incomoda a sincronia das coisas autênticas.
Abro os olhos. Não gosto do que vejo.
Gente apressada passando por mim sem me fazer reparo
um tanto de delicadeza.
Mas não tudo é brutal e a esperança morreu.
Não se pode ir de encontro ao concreto do cimento.
Sento-me num banco de jardim
para ver as crianças brincar e a inocência tomar conta de mim.
Jorge Humberto