Enquanto seus olhos explodem
os meus se retroalimentam
inversamente
doando-me todo para ti
espelho do espelho meu
e se águas escorrerem
esticados e inchados
de dor e de amor
contida e contido
vamos deixar passar
fingir esquecer
como se tudo fosse em vão
e se me atravessarem
me perco nos reflexos
e refrato o que não é você.
Enquanto seu rosto estoura
não sei onde colocar minhas mãos
no rosto do espelho
e os estilhaços de verdades
inversamente
te fazem mais, mas você não pode
eu não posso embaçar
as duas realidades pequenas... lindas!
quem deveria correr primeiro?
sem saber que chegam e saem ao mesmo tempo
e que aquilo nunca perecerá
se despedem.
Enquanto seus lábios se falam
comprimo os meus sem respostas
inquisidor de mim, perdão, des-culpo
doce sua razão e toda essa paixão
nos meus ouvidos
escondo nossa contradição
inversamente
ouço mudo o que falo de ti
no instante que diz
existe medo mais bonito que eu?
Ramon Alcântara