Dependuro-me no céu, de peito aberto,
qual um paletó esquecido no armário.
Dentro de mim um velho trem, sem rumo certo,
apita nas curvas, a dor do meu fadário.
A estrada colorida trago comigo,
semeada de verdejante relva macia,
por ela caminha, em busca de abrigo,
uma musa doirada, d'encanto e magia.
D'entr' as nuvens parte meu comboio voador,
salta-me fora do peito, ganha o espaço,
Nas mãos carrego um ramalhete em flor
sobre o mar de naufrágios e de sargaços.
viaja, o trem, procurando o meu amor,
para repousar no cabide dos seus braços.
Jorge Linhaça