ela falou tudo
tudo sem pronunciar uma palavra
os olhos martelaram o coração
e pregaram um não
disse o que disse
precisamente exata
de um ímpeto impiedoso
o silêncio essencial
pés no chão
nariz no céu
era um anjo com a espada
a procura da maçã e da serpente
ouvi a lágrima descer a montanha
o poema parou
procurei uma vírgula em desespero
nasceu uma flor na garganta
passei a mão na testa
o papel tremia e gemia
desci e subi
o elevador da agonia
trezentas vezes
apertei o botão de pânico
meio inconsciente
sentindo o frio da catástrofe
todo homem um tolo
todo amor uma bobagem
reuni a fraqueza no peito
e a beijei desajeitado
ela falou tudo
tudo sem pronunciar uma palavra
os olhos martelaram o coração
e pregaram um não
carlos assis