Quando criança, eu conversava com as plantas, os bichos,
os riachos, as pedras, as nuvens, a lua, as estrelas...
Entendia cada palavra da gameleira, cada silêncio das
formigas, cada música da cachoeira e todos os barulhos
vindos do céu.
Quanta poesia havia em cada um daqueles momentos!
Hoje converso somente com os meus botões e eles não
me dizem nada.
O meu poeta sempre aparece cantando a primavera,
mas os meus outonos têm as marcas das paixões,
e passo os dias cansado, carregando o peso da máquina
do tempo.
Faz calor, muito calor. Choveu a pouco e, depois da chuva,
o mormaço acendeu uma vontade de dizer não à minha rua.
Uma vontade de dizer não a essa loucura de trânsito,
de construções e asfaltos.
O meu peito não admite concreto na poesia.
Preciso, urgentemente, de uma frente fria que me traga
de volta o poema dos temporais. Com todos os seus barulhos,
com todos os seus encantos e com todas as palavras
que perdi ao longo da estrada.
E que venha embrulhado em papel de sonhos,
com o abraço e o beijo da mulher amada.
© Nathan de Castro