hoje não choveu
na ilha
um sol cinzento
tomou sozinho
conta da terra
minha avó dizia-me
quando era pequeno
que tudo tinha
uma explicação
o amor é como um veneno
cobrindo a vinha
sufocando o coração
e depois apalpava as uvas
rezando por bom vinho
e com pavor
aos morcegos
juntava na mesma oração
um pedido ao seu anjinho
que a noite venha e abrace
quem dorme a bom dormir
e cuide do amanhecer sereno
nas asas de um morcego
que eu não tema o veneno
nem a arte do sorrir
nem receie ficar cego
ou me esconda do partir
nem fuja do enlace
entre a vida e a morte
peço por isso a todos os anjos
o encanto de uma fada
e uma pitada de sorte
para não acordar de repente
esta madrugada
que eu seja cego de noite
e morcego de dia
na sua mágica concórdia
se eu não acredito nos anjos
e na sua santa misericórdia
mesmo que afinal isto dependa
de um deus ou de uma fada
e possa não me servir
entre o crer e o rezar
no meio de uma contenda
absolutamente para nada
José António Gonçalves
na ilha
um sol cinzento
tomou sozinho
conta da terra
minha avó dizia-me
quando era pequeno
que tudo tinha
uma explicação
o amor é como um veneno
cobrindo a vinha
sufocando o coração
e depois apalpava as uvas
rezando por bom vinho
e com pavor
aos morcegos
juntava na mesma oração
um pedido ao seu anjinho
que a noite venha e abrace
quem dorme a bom dormir
e cuide do amanhecer sereno
nas asas de um morcego
que eu não tema o veneno
nem a arte do sorrir
nem receie ficar cego
ou me esconda do partir
nem fuja do enlace
entre a vida e a morte
peço por isso a todos os anjos
o encanto de uma fada
e uma pitada de sorte
para não acordar de repente
esta madrugada
que eu seja cego de noite
e morcego de dia
na sua mágica concórdia
se eu não acredito nos anjos
e na sua santa misericórdia
mesmo que afinal isto dependa
de um deus ou de uma fada
e possa não me servir
entre o crer e o rezar
no meio de uma contenda
absolutamente para nada
José António Gonçalves