Castro Alves so Brasil, para quem tu cantaste
para a flor cantaste? Para a agua
cuja formosura diz palavras as pedras?
Cantaste para os olhos, do perfil separado
da que entao amaste? Para a primavera?
Sm, mas aquelas petálas nao tinham orvalho,
aquelas aguas negras nao tinham palavra,
aqueles olhos eram os que viram da morte,
ardiam os martírios por detras do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.
- Cantei para os escravos, eles sobre os barcos
como um cacho escuro da arvore da ira
Viajaram e em um porto sangraram dos navios
deixando-nos o peso de um sangue roubado.
- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas linguas da cobiça,
contra o ouro empapado no tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os diretores das trevas.
- Cada rosa tinha um morto em suas raízes.
A luz, a noite, o céu se cobrim de prantos,
os olhos apartavam das mãos feridas
e era minha voz a unica que quebrava o silencio.
- Eu quis que do homem nos salvassemos,
eu acreditava que a rota passava pelo homem,
e que dali tinha que sair o destino.
Eu cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz golpeou portas que até entao estavam fechadas
para que, combatendo, a Liberdade entrasse.
Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
torna a nascer pela terra livre,
deixa-me a mim, poeta de nossa pobre América,
coroar tua cabeça como o laurel do povo.
Tua voz se uniu a eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como deve cantar-se.
Dobris, Checoslovaquia, 12 de diciembre de 1950.
Pablo Neruda
para a flor cantaste? Para a agua
cuja formosura diz palavras as pedras?
Cantaste para os olhos, do perfil separado
da que entao amaste? Para a primavera?
Sm, mas aquelas petálas nao tinham orvalho,
aquelas aguas negras nao tinham palavra,
aqueles olhos eram os que viram da morte,
ardiam os martírios por detras do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.
- Cantei para os escravos, eles sobre os barcos
como um cacho escuro da arvore da ira
Viajaram e em um porto sangraram dos navios
deixando-nos o peso de um sangue roubado.
- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas linguas da cobiça,
contra o ouro empapado no tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os diretores das trevas.
- Cada rosa tinha um morto em suas raízes.
A luz, a noite, o céu se cobrim de prantos,
os olhos apartavam das mãos feridas
e era minha voz a unica que quebrava o silencio.
- Eu quis que do homem nos salvassemos,
eu acreditava que a rota passava pelo homem,
e que dali tinha que sair o destino.
Eu cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz golpeou portas que até entao estavam fechadas
para que, combatendo, a Liberdade entrasse.
Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
torna a nascer pela terra livre,
deixa-me a mim, poeta de nossa pobre América,
coroar tua cabeça como o laurel do povo.
Tua voz se uniu a eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como deve cantar-se.
Dobris, Checoslovaquia, 12 de diciembre de 1950.
Pablo Neruda