Eu sou desatenta,
esquecida com coisas importantes,
mas lá no fundo
a alma de criança
brinca com as futilidades...
Muitos pensam sobre minha desatenção:
'absurdo ela esquecer meu nome,
escrevê-lo errado!'
Eu também sou assim
e corrijo o amigo! Situação inimaginável!
No entanto o tempo vai passando,
acelerado ou lento
e percebo que o que antes me incomodava
não me incomoda mais
e o que não me amolava, agora perturba...
Bela pessoa confusa,
um dia sol, noutro lua, noutro chuva...
e olhem: lua tem só quatro fases,
mas eu me multiplico
e me torno obtusa!
Também, sei que não me conheço!
Acho que me conheço!
De repente, lá vem um tornado e me revira,
giro pelo espaço,
e me estatelo lá embaixo!
Vivo dizendo, sou assim e assado!
Ah! cabeça des/compensada,
sou nada disto, faço e me desfaço,
da rotina formo laços tristes;
na agitação, prefiro a calma!
Desta forma sou botão de flor,
que murcha e renasce
conforme as estações do ano,
conforme o trem da vida,
e assim, amorosamente vou levando...
Crio saudades arrependidas,
descasco abacaxis,
mato leões todos os dias...
Sinto prazer em cozinhar,
passada a fase da cozinha...começo a odiar!
Bordo as horas,
adoro verdes abobrinhas,
principalmente as feitas por minha mãe
minha rainha...
Meus filhos e neta, tesouros!
Costuro-os todos na bainha!
Por onde passo eles estão comigo enlaçados,
nos pensamentos debruados
amontoados de carinhos!
Amo amigos e deles não me desfaço!
Ilha que sou, às vezes me isolo,
como amante, colo!
Adoro colo e quando acho um...solo!
Em sinfonia decoro na horizontal e na vertical
a canção do Sol, da Lua e da Chuva
Sou rio que deságua em plácidas lagoas,
quando irada corro pro mar
até me cansar...
então pego do barco a proa
e começo a marulhar...
Aos marujos encanto
com meus versos
quando estes estão no cais
buscando na mulher o universo,
e como sereia serpenteio
seus corpos necessitados de carinho...
Ah! se a noite falasse,
os gemidos nas camas contassem,
haveria mentiras e verdades
andando de mãos dadas pelo mundo à fora,
mas sou rio, e rio corre
até morrer no mar
e em círculos voltar
e formar nuvens, e molhar
e se refazer
no incessante vir a ser
do alinhar a vida,
do acontecer,
do sobreviver,
do apontar a direção
para rejuvenescer!
Sou tanto e não sou nada:
criança, jovem, velha muralha!
Aquela que de nada quer saber,
e aquela que tudo acolhe,
e aprecia amanhecer!